Um carro elétrico é mais caro do que um modelo similar com motor a combustão, no entanto, a demanda por esse tipo de veículo vem crescendo no país. São vários os motivos que explicam o aumento das vendas, mas as dúvidas também crescem à medida que consumidor já utiliza ou decide comprar um carro elétrico.
Os incentivos oferecidos fazem parte do interesse crescente, como o fato de vários estados brasileiros oferecerem isenção ou devolverem parte do valor pago pelo IPVA para quem comprar um carro elétrico. Em cidades como São Paulo, os eletrificados podem rodar em qualquer dia sem se preocupar com o rodízio, por exemplo.
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Antes de comprar um carro elétrico no Brasil, deve-se ter conhecimento de informações importantes, como a autonomia do carro, a capacidade da bateria, o tipo de tomada do carro, a garantia da bateria, se o fabricante fornece um carregador básico, onde recarregar e o custo desta recarga. Isso para abordar o básico.
Com essas questões respondidas, podemos listar 10 dúvidas mais comuns entre os proprietários de veículos elétricos ou daqueles que ainda estão analisando a possibilidade de compra. Então, antes de comprar, entenda:
1- Se ficar sem bateria, posso ser multado?
Sim, um condutor pode ser multado se não respeitar as regras de sinalização quando um carro elétrico fica sem bateria. Ficar parado na via pública sem combustível é considerado um comportamento negligente por parte do condutor. Isso vale para qualquer combustível. No caso dos veículos movidos à combustão, a chamada “pane seca” recai na mesma infração.
O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) prevê a situação de falta de combustível (“pane seca”) no artigo 180, com multa estabelecida em R$130,16 e a inclusão de 4 pontos na carteira de motorista. No caso de veículos elétricos, a terminologia não se aplica diretamente porque não dependem de combustíveis líquidos, como gasolina ou diesel.
Porém, no artigo 181, é obrigatória a sinalização de veículos estacionados em local proibido com pisca alerta e triângulo de sinalização. Portanto, um carro elétrico sem bateria pode causar multa ao condutor que não se atentar às regras de sinalização.
Para evitar ficar sem bateria, os motoristas devem planejar adequadamente a viagem e estar cientes da autonomia do veículo. Além disso, devem verificar o nível da bateria com frequência, pois a maioria dos carros elétricos têm um indicador de bateria no painel.
Quando a bateria do carro elétrico acaba, a solução é rebocar o automóvel até à “tomada” ou ao ponto de abastecimento mais próximo. Importante dizer que alguns motoristas já relataram que conferiram o nível de bateria e tinham autonomia até o destino, mas mesmo assim a bateria descarregou antes do previsto.
De todo modo, é importante dizer que ss carros elétricos têm um sistema eletrônico que administr a bateria, impedindo que a carga seja descarregada completamente. Por exemplo, se uma bateria tiver 55 kWh, só será possível usar 52 kWh, com a diferença restante armazenada para proteger as células de uma descarga completa. Agora, qualquer sistema pode falhar em algum momento, portanto, não se arrisque.
2- Então, o carro elétrico pode ser rebocado?
Quando a bateria do carro elétrico acaba, a solução é rebocar o automóvel até à “tomada” ou ao ponto de abastecimento mais próximo, como explicado no item acima. No entanto, o serviço de reboque para veículos elétricos requer uma abordagem distinta, pois esses carros não devem ser transportados suspensos pelas rodas traseiras.
A opção mais aconselhável é o uso de guinchos do tipo plataforma, que permitem que o carro elétrico seja colocado na parte traseira do veículo de reboque. Dessa forma, o carro elétrico ficará com as quatro rodas no chão, mas em cima de outro veículo, e não precisará usar energia para se movimentar.
No entanto, alguns modelos têm um “modo de reboque” que permite rebocar o veículo por curtas distâncias e a baixa velocidade. O ato de rebocar exige um esforço significativo do veículo, e as baterias dos carros elétricos podem ser sobrecarregadas se submetidas a esforços excessivos por um longo período de tempo. Isso pode resultar em danos às baterias, redução da vida útil e, potencialmente, falhas no sistema elétrico.
Os fabricantes recomendam não rebocar os carros elétricos pelo elevado risco de danificar os freios regenerativos, entre outros componentes eletrônicos. Em caso de reboque, o propulsor a bateria pode gerar eletricidade, provocando danos aos sistemas do automóvel e, em casos extremos, até resultar em incêndio. Assim sendo, antes de tentar rebocar um carro elétrico, é importante consultar o manual do proprietário.
3- Posso passar por pontos de alagamento ou enchentes?
A maioria dos veículos elétricos são resistentes à água e conseguem até serem submersos sem danificar a bateria. Os motores dos carros elétricos são normalmente blindados e podem molhar sem problemas na maioria dos casos. As baterias são envoltas com materiais de alta vedação.
Inclusive os carros elétricos são projetados para suportar condições climáticas extremas, como enchentes e frio intenso. Essa é a teoria. No entanto, não é recomendado atravessar uma enchente.
Os carros elétricos têm os componentes energizados isolados da cabine e cobertos por materiais pintados de laranja fluorescente, para serem notados facilmente. Assim que o sistema identifica uma situação de risco, como uma enchente, o veículo é desenergizado na hora.
No entanto, os carros elétricos podem ter os mesmos problemas dos carros a combustão se a água entrar no interior do veículo, danificando tapetes, estofamentos, tecidos e congêneres. Além disso, os riscos de a água entrar pela tomada de ar do motor, provocando o calço hidráulico, são semelhantes aos dos modelos a combustão. Em casos assim, a única solução é fazer uma retífica completa, serviço que não é barato.
4- Qual a vida útil da bateria?
Talvez seja a pergunta de um milhão de dólares em relação a um carro elétrico. Ou pelo menos uma delas, já que questões relacionadas à bateria são muitas e ainda sem respostas definitivas.
Novamente vamos seguir a cartilha da teoria. A vida útil da bateria de um carro elétrico pode variar entre 8 a 10 anos, ou cerca de 160 mil a 200 mil km. No entanto, os fabricantes estimam uma vida útil maior, na casa dos 20 anos.
A durabilidade da bateria de um carro elétrico pode variar de acordo com diversos fatores, como: condições climáticas, frequência de uso, forma de direção do motorista, marca e o modelo do veículo, cuidados do proprietário, entre outras variáveis.
As baterias desse tipo de veículo são construídas para superarem o tempo de vida útil do veículo, durando em média 1000 ciclos de descarga e recarga. É bem provável que você nem precise trocá-las durante o período em que ele estiver sob sua posse. Aqui entra de novo a suposição teórica e sugestão da indústria.
Via de regra, as baterias retêm entre 80% e 85% da capacidade após oito ou dez anos de uso.
A principal corrida entre os fabricantes de carros elétricos é pela capacidade e autonomia das baterias para alimentar os motores. As baterias de estado sólido podem abrir caminho para uma reformulação da mobilidade global, desde robô-táxis até aviação regional e novos tipos de drones.
Em 2030, os carros elétricos podem representar 35% das vendas mundiais, 61% em 2035 e 77% em 2040. Os números são projeções que depedenderão de muitos fatores. No entanto, esses números podem ser maiores ou menores, dependendo do avanço das regulações, da tecnologia das baterias e da estratégia de produção das montadoras. Só o tempo dirá.
5- E como é feito o descarte da bateria?
No que diz respeito à troca de baterias, devemos pensar no que fazer com células e conjuntos descartados após a vida útil. E aí pesa a falta de estrutura e planos no país. Na prática, o que vemos em relação à reciclagem de baterias de íons de lítio é um processo semelhante ao descarte de baterias de celulares, computadores, tabletes e outros eletroeletrônicos (que infelizmente também ainda engatinha por aqui).
Segundo dados fornecidos pelo Ministério do Meio Ambiente, as baterias de íons de lítio de aparelhos eletrônicos usados nem são tratadas aqui no Brasil e sim, exportadas para reciclagem.
Isso acontece, dentre outras razões, porque o Brasil não fabrica baterias de lítio em larga escala, especialmente para eletroeletrônicos, cuja produção se concentra na Ásia. Por sua vez, a reciclagem se destina a separar metais e outros componentes para serem reutilizados em novas baterias, por isso fica mais barato e fácil mandar para fora, de volta à origem. Mas isso tem um custo e, pior, não nos gera qualquer vantagem econômica.
A reciclagem de baterias de carros elétricos envolve a remoção de materiais como lítio, cobalto, níquel e alumínio para que possam ser reutilizados na fabricação de novas baterias ou outros produtos. O processo de reciclagem geralmente envolve várias etapas, como: desmontagem, trituração, separação, purificação e recuperação de metais.
A maioria dos recicladores usa um dos dois métodos possíveis:
- Tratamento térmico, que consome muita energia
- Trituração no vácuo ou no nitrogênio líquido, o que pode produzir gases tóxicos
A reciclagem de baterias é um serviço de custo elevado, mas é um trabalho extremamente importante para diminuir a poluição do solo e degradação do meio ambiente.
6- Afinal, e a sustentabilidade?
Uma das grande bandeiras levantadas pela indústria automotiva de carros elétricos é a de que são menos poluentes e melhores para o meio ambiente. Mais uma vez, em tese.
Na prática, embora os veículos elétricos não emitam gases poluentes no ar como acontece nos carros convencionais, eles impactam o meio ambiente de outra forma. Isso porque a produção de baterias é um processo longo e trabalhoso, que depende de metais raros como o lítio, cobalto e níquel.
Existe o impacto socioambiental causado em todo o processo de produção dessa bateria e em seu descarte. Para se fazer apenas 80 baterias, é necessário uma tonelada de lítio. E essa extração consome 2,1 milhões de litros de água. Esses são dados do relatório do grupo FoEI (Amigos da Terra Internacional, na sigla em português) usando carros como o Tesla Model S.
Os carros elétricos não geram poluição sonora e são abastecidos com energia elétrica, que pode vir de fontes limpas. No entanto, é importante considerar o ciclo de vida completo desses veículos, desde a fabricação das baterias até seu descarte, para avaliar seu verdadeiro impacto ambiental.
Os carros elétricos têm menor emissão de CO2 ao longo de sua vida útil do que os modelos a combustão, até mesmo com a energia vindo de fontes não limpas. No entanto, a energia que move esse carro é gerada por usinas termelétricas à base de carvão mineral, combustível altamente poluidor.
Eles podem vir a serem responsáveis por cerca de 43 mil toneladas de lixo perigoso até 2030. Além disso, os carros elétricos produzidos utilizando energia limpa e funcionando com eletricidade limpa, a paridade de carbono aconteceria em menos de um ano de direção (cerca de 13.000 km).
7- Como devo carregar meu carro em casa?
Para carregar um carro elétrico em casa, pode usar um cabo que normalmente vem com o carro e uma tomada de 110V ou 220V. No entanto, esta é a forma mais lenta e pode levar até 40 horas.
Uma opção mais prática e conveniente é o carregador Wallbox, que é instalado na parede, geralmente em garagens ou estacionamentos residenciais, permitindo uma carga rápida e segura. O carregador residencial chega a 16 ou 32 A e pode ser instalado em tensões de 220/380 V, dependendo da disponibilidade da rede residencial.
Antes de carregar um carro elétrico em casa, é muito importante verificar se a sua instalação elétrica tem a capacidade necessária para suportar o carregamento do veículo sem sobrecarregar o sistema elétrico da sua residência. Também deve garantir que a tomada a ser usada para o carregamento seja apropriada e capaz de suportar a potência necessária.
O preço médio de um Wallbox é de R$ 7 mil e demanda obras na residência para quem não tem a rede trifásica.
A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) publicou a norma ABNT NBR 17019:2022 – Instalações elétricas de baixa tensão – Requisitos para instalações em locais especiais – Alimentação de VEs (veículos elétricos), elaborado pelo Comitê Brasileiro de Eletricidade (ABNT/CB-003). É vital que as normas sejam seguidas para a sua segurança, do veículo e todo o entorno. Verifique se sua residência ou condomínio cumpre as normas específicas da ABNT. Pode consultar as normas no site. Conheça abaixo as principais:
- NBR 17019:2022 – Esta norma determina que as estações de recarga para veículos elétricos destinadas ao público devem ser projetadas visando o fácil acesso ao ponto de recarga, além de estarem sinalizadas adequadamente. A norma também orienta que seja instalado no quadro de distribuição um DR (disjuntor residual) visando a segurança dos usuários.
- NBR 14.039 – Fornece um conjunto de diretrizes essenciais para projetar, executar, e manter instalações elétricas adequadas para o carregamento de veículos elétricos.
- NBR 13.570 – Norma que traz regras que impedem qualquer possibilidade de incêndio ou choques elétricos em lugares que apresentem uma grande movimentação diária de pessoas.
- ABNT NBR IEC 61851-24:2021 – Aborda a comunicação digital entre a estação de recarga em corrente contínua, para veículos elétricos e o veículo elétrico para o controle da recarga em corrente contínua.
- ABNT NBR IEC 61851-23 – Apresenta os requisitos para as estações de recarga em corrente contínua para veículos elétricos (VE), aqui denominados como “carregador c.c.”, para a conexão condutiva ao veículo, com uma tensão de entrada c.a. ou c.c. até 1 000 V e até 1 500 V c.c. .
- ABNT NBR IEC 61851-1 – Norma aplicável aos sistemas de alimentação para a recarga de veículos elétricos rodoviários, com tensão nominal de alimentação 1.
- NR 10 – Estabelece os requisitos mínimos para garantir a segurança e a saúde dos trabalhadores que atuam em instalações elétricas, incluindo a instalação de carregadores elétricos.
8- Qual o custo de manutenção de um carro eletrificado?
O custo de manutenção de um carro elétrico é geralmente mais econômico do que um carro movido a combustão. As revisões semestrais de um carro elétrico podem custar cerca de R$ 250, enquanto os carros a combustão custam cerca de R$ 800. No entanto, o custo da manutenção varia de acordo com o modelo do carro. Por exemplo, a manutenção de um Peugeot e-208 GT custa R$2.103,00, enquanto a revisão de um 208 a combustão custa R$4.828,00 a cada 60 mil quilômetros rodados.
O custo de recarga de um carro elétrico em casa, em São Paulo, custa entre R$30 e R$90, com uma média de R$0,70 por kWh. O custo por quilômetro rodado é de R$0,08, o que significa uma economia de 462,5% em relação ao consumo de gasolina.
Como tudo que envolve este universo, o valor exato vai depender do tipo de instalação, do uso e, fatalmente, de haver oferta e demanda reais. Também é preciso levar em consideração outros pontos, como se na hora de precisar trocar a bateria, valerá a pena? A questão da reciclagem para redução de custos (além de evitar problemas ambientais), ainda são incógnitas.
Será que na prática os carros elétricos tendem a envolver o custo principal, a bateria? Na prática, será que acaba valendo trocar o carro inteiro e não a bateria, caso algo dê errado e a garantia não cubra? Ainda a indústria não trouxe respostas conclusivas.
Teoricamente, sistemas elétricos desses modelos são quase livres de manutenções e falhas e podem reduzir o risco de uma troca de bateria fora de garantia no meio da vida útil do conjunto. Mas, de novo, tudo depende do tipo de uso e de dados ainda inexistentes no Brasil.
9- O que fazer para a bateria durar mais?
Para fazer a bateria do seu carro elétrico durar mais, pode tentar:
- Evitar descarregar a bateria abaixo de 10% e carregar mais de 80 ou 90%
- Recarregar quando a bateria estiver com cerca de 20-30% de carga restante
- Manter a bateria em boas condições de temperatura
- Usar carregadores de alta qualidade e recomendados pelo fabricante
- Utilizar regularmente a travagem regenerativa
- Desligar as partes elétricas antes de dar partida
- Descarregar e deixar a bateria descansando por algumas horas
- Verificar qual é a potência do carregador e qual tomada será utilizada
- Atentar para o modo de dirigir, a energia demandada nos elétricos é muito maior em acelerações e frenagens, por isso, evite arrancadas e paradas bruscas
- Depois de dirigir a temperaturas elevadas, evite colocar de imediato o veículo para carregar
A qualidade do uso do carro, o clima do lugar onde anda com ele e quantas vezes usa por semana podem acabar com a autonomia.
O fluido de íon de lítio, ao contrário do chumbo, é altamente inflamável. Os cabos podem se romper e espalhar uma corrente elétrica de alta tensão pela estrutura do carro, ou até mesmo atingir um eventual vazamento do fluido sobre o asfalto.
Os carros elétricos têm sistemas de segurança que diminuem os riscos de incêndio em caso de acidente, mas podem ficar vulneráveis se os cabos ficarem expostos ou se a bateria for danificada. No entanto, os veículos com baterias de íon de lítio têm um risco menor de incêndio do que os movidos a diesel ou gasolina. Se as baterias pegarem fogo, o perigo é grande porque queimam mais lentamente e as chamas são mais difíceis de controlar. Para apagar o fogo, é mais apropriado usar agentes químicos secos ou espuma, pois ajudam a resfriar a bateria e cortar o fornecimento de oxigênio.
Quando se trata de incêndio em carro elétrico, soluções efetivas para apagar o fogo ainda estão em desenvolvimento, isso porque a bateria de lítio ainda é relativamente nova nos automóveis.
Os componentes da bateria têm um eletrólito orgânico líquido altamente volátil e inflamável a altas temperaturas, o que dificulta a extinção de um incêndio. Em caso de células danificadas, pode ocorrer um curto-circuito mecânico ou químico que pode gerar corrente irregular além da capacidade da célula.
Isso eleva a temperatura interna e gera reações que aumentam o calor externamente, em um processo denominado “fuga térmica”. Desta forma, a energia térmica liberada, aliada aos vapores inflamáveis em contato com o ar, faz com que haja chamas intensas.
O resultado de uma fuga térmica de uma célula depende do seu nível de carga e pode levar, no pior dos casos, a uma inflamação ou mesmo a uma explosão.
Para evitar a fuga térmica, é aconselhável carregar carros elétricos ao ar livre ou em locais bem ventilados. O Sistema de gerenciamento da bateria (Battery Management System, BMS) é usado para monitorar as temperaturas e garantir a integridade da bateria.
Para combater incêndios em baterias de lítio, saiba que, em geral, nem água apaga. O resfriamento é a principal técnica para controlar incêndios em baterias de lítio, mantendo a temperatura abaixo dos patamares críticos.