Neste domingo (14), é comemorado o Dia Mundial do Café. Não se sabe ao certo quem criou a data — a própria OIC (Organização Internacional do Café), à qual se atribui a comemoração, rebate que não foi ela. “Isso virou uma confusão no mercado”, afirma Vanusia Nogueira, diretora-geral da entidade, com sede em Londres. A OIC estabeleceu como Dia Internacional do Café, segundo a representante, o 1º de outubro, quando começa a safra nos países produtores. “Mas é mais uma celebração. Costumo dizer que o importante é celebrar o café.”
Por isso, porque o importante é celebrar o café, a Forbes Agro levantou cinco curiosidades sobre o mercado global do grão, após um mês recorde nas exportações brasileiras. Em março, os embarques atingiram 4,2 milhões de sacas (60 quilos), um aumento de 37,8% em relação ao mesmo mês do ano passado. É o maior volume já registrado para o mês na série histórica do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil). Quais países lideram as compras do produto e que novidades permeiam as relações comerciais do Brasil? Confira na galeria a seguir:
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Getty EUA seguem na liderança da importação de café brasileiro
Os Estados Unidos seguem na liderança das importações do café brasileiro. Em 2023, o país comprou 4,9 milhões de sacas do Brasil, volume que representa 16,2% do total exportado. No ano anterior, esse número tinha sido maior, com 7,9 milhões de sacas. A queda de 38% no volume embarcado se explica por dois anos consecutivos de produção menor (2021 e 2022) e entraves logísticos, com problemas no line-up do porto de Santos.
Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé, observa que a penetração da bebida nos lares americanos cresceu muito desde 2021, à monta de 7%, chegando atualmente a 65% das residências. “No mercado americano, hoje, o café é o rei absoluto”, observa ele, indicando que o nível de penetração das outras bebidas é menor, como chás (46%) e sucos (22%). Outra tendência nos EUA é o aumento do consumo de café gelado (cold brew), que hoje representa algo em torno de 25% da demanda. “O mundo está aquecendo, não? Está ficando mais quente e as pessoas estão migrando para o consumo de bebidas mais geladas.”
Segundo Matos, norte-americanos mais jovens estão cada vez mais interessados no cafezinho, embora a maior parte do consumo ainda esteja nas camadas mais velhas da população. No pós-pandemia, indica o representante, houve um reforço na demanda por cafeterias, conforme a necessidade de ressocialização que predominou mundialmente no período.
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Getty China está se ocidentalizando no consumo de café
No ano passado, a China ultrapassou os EUA como o maior mercado de cafeterias no mundo, com 49,6 mil pontos comerciais, de acordo com o World Coffee Portal, plataforma de informações da indústria cafeeira com sede em Londres. O dado é um indicador de que o país asiático está aumentando seu consumo de café, inclusive nas importações do grão brasileiro, que somaram 1,4 milhão de sacas no ano passado, crescimento de 278,6% em relação a 2022, quando os chineses importaram 390,8 mil sacas, alçando a demanda chinesa da vigésima à sexta posição no ranking de parceiros comerciais do Brasil, em apenas um ano.
Para Vanusia Nogueira, da OIC, essa tendência reflete uma ocidentalização da China em relação ao consumo de café. “O que está acontecendo com a China é uma coisa que nós já imaginávamos — durante muitos anos se pensou que a China era o país do futuro no consumo de café”, observa ela. “O que acontece é que o café, de uma forma geral, na Ásia, entra dentro de um hábito de consumo mais ocidental. Então, à medida que eles vão recebendo expatriados, empresas que vão para aquela região, multinacionais, ou à medida em que eles mandam os seus filhos estudar no Ocidente e esses rapazes e moças voltam, o consumo aumenta cada vez mais. E não só na China: essa revolução acontece também na Índia, Indonésia e Filipinas.”
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Getty Novas regras podem dificultar exportações à Alemanha e Itália
Na segunda posição dos maiores importadores de café brasileiro, figura a Alemanha, com a compra de 3,7 milhões de sacas (12,2% das exportações do Brasil) em 2023, seguida da Itália com 2,4 milhões de sacas (8,11%). Com a nova regulamentação europeia para a importação de produtos livres de desmatamento, a EUDR (European Union Deforestation Free Regulation), promulgada pela UE (União Europeia) em maio do ano passado, os dois países correm o risco de perder seus lugares no ranking.
Isso porque a legislação determina que um grupo de sete commodities, inclusive o café, só poderão entrar no bloco econômico se não vierem de áreas que foram desmatadas após 31 de dezembro de 2020. “Isso pode mexer com o mercado durante um período. Não sabemos ainda o quanto”, afirma Vanúsia Nogueira, da OIC. No ranking de importadores por continentes, a liderança é da Europa, com aquisição de 18,8 milhões de sacas — 7,9% a menos do que em 2022 — e representatividade de 48% do total.
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Getty Por que concorrentes estão comprando café do Brasil?
Tradicional competidor do Brasil no páreo de segundo país que mais produz café, com oferta de até 14 milhões de sacas por ano, a Colômbia importou 964,3 mil sacas do país concorrente em 2023. O vizinho sul-americano, conhecido por cafés suaves e de alta qualidade, tem 840 mil hectares plantados e cerca de 540 mil famílias dependentes da atividade. A safra colombiana cresceu 2% em 2023, para 11,3 milhões de sacas, encerrando três anos consecutivos de queda.
Mas por que a Colômbia tem importado café do Brasil? “Isso tem muito a ver com a questão das mudanças climáticas”, responde Vanúsia Nogueira. “Assim como nós tivemos uma queda muito grande de produção no Brasil — três, quatro anos atrás, com as geadas —, nos últimos dois anos a Colômbia enfrentou um problema muito sério, com 34 meses de chuvas. Então, como não tinha luminosidade suficiente, os grãos demoravam muito mais para amadurecer. Devido a esse efeito climático extremo, eles tiveram uma queda de produção e precisaram importar café. E como o consumo interno está crescendo, eles precisam das importações para cumprir com os contratos internacionais e também para atender o consumidor doméstico.”
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Getty Brasil vive explosão nos embarques de café robusta
As exportações de cafés canéforas (também conhecidos como robusta ou conilon) vêm se destacando na balança comercial do setor. Em março, quando os embarques de café cresceram 37,8% na comparação anual, chegando a 4,2 milhões de sacas, as vendas externas de robusta puxaram o aumento com uma alta de 689,4%, com 847,3 mil sacas. O conilon é um café mais amargo porque tem mais cafeína, portanto a preferência de paladar no mercado global é o arábica, que deve responder por 57,7% da safra atual no Brasil. Vale registrar que, enquanto o arábica tem uma concentração de apenas 1,2% de cafeína, as outras variedades apresentam cerca de 2,2%.
Como a produção brasileira de conilon em 2023 foi maior, o Brasil conseguiu atender à demanda internacional por esse tipo de café, suprindo dificuldades causadas pelos problemas climáticos na Indonésia e no Vietnã, países focados na oferta de robusta. O estado brasileiro que mais produz canéfora é o Espírito Santo, com 11 milhões de sacas, ante 3,9 milhões de sacas de arábica em 2023, ainda de acordo com o Cecafé. A Bélgica e o México foram os principais destinos dos canéforas produzidos no Brasil ao longo do primeiro trimestre, totalizando compras de 424 mil sacas e 267,4 mil sacas, respectivamente.
EUA seguem na liderança da importação de café brasileiro
Os Estados Unidos seguem na liderança das importações do café brasileiro. Em 2023, o país comprou 4,9 milhões de sacas do Brasil, volume que representa 16,2% do total exportado. No ano anterior, esse número tinha sido maior, com 7,9 milhões de sacas. A queda de 38% no volume embarcado se explica por dois anos consecutivos de produção menor (2021 e 2022) e entraves logísticos, com problemas no line-up do porto de Santos.
Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé, observa que a penetração da bebida nos lares americanos cresceu muito desde 2021, à monta de 7%, chegando atualmente a 65% das residências. “No mercado americano, hoje, o café é o rei absoluto”, observa ele, indicando que o nível de penetração das outras bebidas é menor, como chás (46%) e sucos (22%). Outra tendência nos EUA é o aumento do consumo de café gelado (cold brew), que hoje representa algo em torno de 25% da demanda. “O mundo está aquecendo, não? Está ficando mais quente e as pessoas estão migrando para o consumo de bebidas mais geladas.”
Segundo Matos, norte-americanos mais jovens estão cada vez mais interessados no cafezinho, embora a maior parte do consumo ainda esteja nas camadas mais velhas da população. No pós-pandemia, indica o representante, houve um reforço na demanda por cafeterias, conforme a necessidade de ressocialização que predominou mundialmente no período.