A Universidade de Harvard possui vários itens peculiares em sua coleção, como esqueletos completos, ossos e dentes, mas um deles chama a atenção: um livro encadernado com pele humana. Trata-se de “O Destino das Almas”, de Arsène Houssaye.
Após anos de debates sobre a ética de usar a obra para divulgar o acervo de Harvard e a confirmação, a partir de nova tecnologia, de que realmente se trata de pele humana, a instituição anunciou, oficialmente, que retirará a pele do encadernamento do livro.
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Restos mortais de livro terão novo destino
- Segundo Harvard, os restos mortais terão “disposição final respeitosa”;
- O tratamento dado ao livro, segundo a instituição, não cumpria com os “padrões éticos” exigidos e teve “tom sensacionalista, mórbido e de humor” inapropriado na divulgação;
- A biblioteca se desculpou, afirmando que “objetificou e comprometeu ainda mais a dignidade do ser humano cujos restos mortais foram usados na encadernação”;
- Segundo O Globo, a obra chegou à Harvard em 1934, a partir do diplomata estadunidense John B. Stetson;
- Sua encadernação foi feita por seu primeiro dono, o Dr. Ludovic Bouland, médico francês que alegou que “um livro sobre a alma humana merecia ter uma cobertura humana”;
- Stetson indicou, em memorando, que a pele em questão era de uma mulher que faleceu em um hospital psiquiátrico francês;
- Com a remoção da pele, o texto ficará inteiramente disponível para consulta pessoalmente e online.
Após estudo cuidadoso, com envolvimento e consideração das partes interessadas, a Biblioteca de Harvard e o Comitê do Museu de Harvard concluíram que os restos mortais usados na encadernação do livro não se encaixam na coleção da Biblioteca de Harvard, devido à natureza eticamente complexa das origens do livro e sua história subsequente.
Universidade de Harvard, em comunicado
A decisão de Harvard foi forçada por uma campanha de maio de 2023 liderada pelo estudioso dos primeiros livros modernos, Paul Needham, que exigia a remoção da encadernação e o enterro dos restos mortais da mulher na França.
Em carta enviada na semana passada à universidade, Needham e outros dois líderes do grupo afirmam que a biblioteca lidada com o livro “de forma brutal, como item de exibição sensacionalista”.
Tratar o livro como item de exposição “me parece violar todos os conceitos concebíveis de respeito aos seres humanos”, disse Needham após o anúncio de Harvard. Optar por determinar disposição respeitosa para ele foi a “decisão certa”, acrescentou.