O dólar fechou em alta de 1,61% nesta terça-feira (16), cotado a R$ 5,2688. Mais cedo, a moeda chegou a superar a marca dos R$ 5,28 no mercado local, atingindo o maior patamar desde março de 2023.
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Por trás da disparada da moeda está uma “tempestade perfeita” de aversão a risco, agravada pela confirmação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que a meta fiscal de superávit de 0,5% estabelecida para o ano que vem não será atingida – em vez disso, o Brasil deve ter déficit zero, mesma meta de 2024.
A cotação do dólar hoje reforça posições cambiais defensivas no mercado futuro e há também demanda à vista de investidores estrangeiros que estão saindo da Bolsa e do País, após uma piora de percepção sobre as contas públicas, na esteira da mudança das metas fiscais dos próximos anos a fim de ampliar gasto do governo, afirma o diretor Jefferson Rugik, da corretora Correparti.
Segundo ele, há grande contribuição externa também na precificação da taxa de câmbio diante dos sinais de manutenção de juros por longo período nos EUA, que sustentam a demanda e a alta das taxas dos Treasuries (títulos da dívida estadunidense), nas incertezas sobre os desdobramentos do conflito Israel-Irã e em relação à economia chinesa.
Por que o dólar está subindo?
Neste início da semana, o líder da economia do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Fernando Haddad, confirmou que a meta fiscal de superávit de 0,5% não será atingida. “Isso demonstra que o governo está com dificuldade de arrumar receita e tem aumentado a despesa. Isso traz um medo para o investidor estrangeiro, que aproveitando a onda de juros altos lá fora acaba encorajado a retirar cada vez mais dinheiro do Brasil. E quanto mais dinheiro é retirado daqui, maior fica o preço do dólar”, afirma Gabriel Meira, especialista da Valor Investimentos.
No exterior, a falta de visibilidade sobre o início dos cortes de juros nos Estados Unidos vem pressionando o dólar para cima desde o início do ano. Os dados americanos mais recentes de inflação e de emprego, referentes ao mês de março, mostraram que a economia do país ainda está resiliente e os preços continuam avançando acima das expectativas. A conclusão é que a persistência da inflação afasta, cada vez mais, a possibilidade de diminuição das taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano).
Desde julho do ano passado, o país mantém os juros entre 5,25% e 5,5% ao ano, o maior patamar em quase 24 anos. Com a renda fixa mais segura do mundo oferecendo retornos maiores, os investidores estrangeiros tendem a tirar “dólares” de mercados mais voláteis, como o Brasil e demais nações emergentes, e migrar esse capital para os títulos do tesouro americano.
Além disso, os conflitos geopolíticos também ajudaram a acelerar a fuga para o dólar, que é considerado um “ativo de proteção” em momentos de crise. No último sábado (13), seis meses após o grupo radical Hamas realizar um ataque surpresa a Israel, o Irã bombardeou o Estado israelense. A insegurança trazida pela guerra foi sentida nos mercados, com a queda generalizada das criptomoedas após o anúncio da ofensiva e disparada do dólar sobre o real desde a segunda-feira (15).
Uma escalada da guerra em Israel pode pressionar os preços do petróleo devido a possíveis dificuldades de produção. Com combustíveis mais caros, a inflação tende a subir no mundo – o que também gera, em uma segunda instância, uma corrida para o dólar.
Por que a cotação dólar sobe e desce?
Quando existe uma procura maior pela moeda estrangeira e a taxa de câmbio sobe a níveis não desejados, o Banco Central pode vender dólares no mercado, aumentando a oferta da moeda e pressionando o preço para baixo. Desse modo, o real volta a se valorizar em comparação ao dólar e a taxa de câmbio cai.
Por outro lado, quando há uma grande entrada de dólares no País, o BC pode adquirir a moeda norte-americana e injetar mais reais na economia para não permitir a queda da taxa de câmbio.
Qual é a relação do dólar com a Bolsa de Valores?
Diversas empresas têm ações negociadas na bolsa de valores. Conforme as negociações acontecem ao longo do dia, por meio da oferta e da demanda, o preço do dólar pode subir ou cair. Diversos fatores influenciam na cotação da moeda, como crises políticas e sanitárias, fazendo investidores colocarem ou retirarem seus investimentos do País.
* Com informações do Broadcast
Por que o dólar vale mais do que o real?
A cotação do real ante o dólar é um indicador estruturante da economia. Isso acontece pela importância da divisa norte-americana no mercado de câmbio, além de ser a moeda oficial utilizada no comércio internacional.
O dólar se firmou como a principal moeda do mundo no século XX, que terminou em 2001. Na Primeira e na Segunda Guerra Mundial as potências envolvidas gastaram grande parte de suas reservas em despesas bélicas, os estoques de ouro ficaram, portanto, escassos. Ao fim destes conflitos, os EUA se consolidaram enquanto potência mundial e sua moeda, a dominante nos mercados globais. Assim, a maior parte dos negócios entre os países passou a acontecer por meio do moeda norte-americana.
As operações de câmbio ocorrem entre quaisquer moedas, mas é em relação ao dólar que se compara o quanto elas estão valorizadas. Na hora de trocar reais por pesos chilenos, por exemplo, a relação dessas moedas frente ao dólar dá lastro à troca.
Essa é a razão por que se fala tanto na balança comercial. Quando um país exporta muito – como é o caso do Brasil, embora as commodities tenham menor valor agregado – ou recebe muitos turistas, entram mais dólares na economia local. Já quando importa muito, é necessário comprar mais produtos em preço americano e isso se torna desfavorável às contas públicas.