Eu falei nesta semana no F90 (programa diferenciado da ESPN que costuma gerar algumas polêmicas) que o Palmeiras, nesta década, é maior do que a Juventus quando fui comentar sobre o “chapéu” que o Verdão deu na “Velha Senhora” ao contratar o bom e versátil Felipe Anderson. Percebi de cara que muita gente viu uma dose de loucura e de forçada de barra na minha análise. Não disse isso para ganhar audiência ou para faturar cliques aqui, eu apenas fiz uma constatação sobre o atual momento dos dois maiores vencedores de títulos nacionais no Brasil e na Itália.
Não é nada absurdo Felipe Anderson escolher hoje o Palmeiras e sair do futebol italiano, que vive uma fase muito diferente daquela dos anos 80 e 90, quando o Calcio era o “Eldorado da bola”.
Temos uma tendência cada vez maior de colocar o futebol europeu no Olimpo e tratarmos o futebol brasileiro como algo de segunda linha, só que eu afirmo, sem medo de ser rotulado como maluco, que o Campeonato Brasileiro, já faz um bom tempo, é melhor do que a tradicional Serie A italiana.
E olha que o Italiano, apesar dos fracassos seguidos de seus clubes em competições da Uefa nos últimos anos, é visto ainda com bastante justiça, pela grande tradição do Calcio, como uma das quatro principais ligas nacionais do “Velho Continente”.
Vamos começar pelo duelo entre Palmeiras e Juventus, algo que pode acontecer de fato no novo Mundial de Clubes da Fifa em 2025 (ambos estão classificados, o Verdão por ter sido campeão da CONMEBOL Libertadores de 2021, e a Juve pelo ranking da Uefa).
O competitivo time de Abel Ferreira não é favorito contra um Manchester City ou um Real Madrid, mas, a meu ver, tem condições totais de encarar a Juventus atual de igual para igual.
O clube paulista é o atual bicampeão do Brasileiro, campeonato que já coloquei acima do Italiano neste momento. A “Velha Senhora”, nesta década, venceu apenas uma Copa da Itália, isso em 2021.
Nos últimos anos, Inter de Milão, Milan e Napoli ganharam o Scudetto. Neste ano em que o Palmeiras selou seu tricampeonato paulista, algo que não conseguia desde os anos 30, quando o Verdão já exportava jogadores para a terra da pizza (acho a pizza de São Paulo melhor do que a da Itália também, já que é para comparar tudo), a equipe de Turim pode conquistar outra Copa da Itália e mais nada (ela está 20 pontos atrás da Inter na Serie A e venceu apenas dois de seus últimos 11 jogos no Italiano). A fase do Palmeiras, que ganhou todos os títulos possíveis com Abel Ferreira, exceção feita ao Mundial, é bem melhor.
Nenhum clube italiano alcançou nesta temporada as quartas de final da Champions League. Inter, Napoli e Lazio caíram nas oitavas. O último time italiano que ganhou a mais nobre competição europeia foi a Inter de José Mourinho, em 2010. De lá para cá, o único título de clube do Calcio em torneios da Uefa foi a conquista da Roma na Conference League, em 2022 (o português Mourinho era também o treinador campeão).
Já aqui na América do Sul, os clubes brasileiros têm dominado a Libertadores desde 2019, e o Palmeiras nesse período tem sido o clube mais regular, fazendo sistematicamente as melhores campanhas das fases de grupos e chegando forte às semifinais (venceu duas Libertadores no mesmo ano por conta da pandemia e o calendário diferente na época).
No Brasil, o Palmeiras disputa todas as finais estaduais desde 2020, e sabemos que o Paulista é o mais forte torneio regional do país, comparável ao Italiano. São quatro grandes em São Paulo, além de equipes de bom nível no interior, com destaque para o Red Bull Bragantino, com gerenciamento europeu.
Na Itália, temos o trio mais poderoso (Milan, Juventus e Inter) e alguns clubes tradicionais em bom momento, casos de Roma, Lazio, Napoli, Fiorentina e Atalanta.
O Palmeiras tem criado uma hegemonia local por conta muito de sua organização, de seu planejamento, de sua vida financeira estável, de seu bom trabalho de base, de sua forte estrutura, de sua comissão técnica e de seu bom grupo de jogadores.
A Juventus tem, claro, bons jogadores, sobretudo brasileiros na parte defensiva, mas não tem conseguido ser competitiva como foi na década passada, quando dominou com tranquilidade o futebol italiano.
Dá para dizer que o Verdão é hoje o clube brasileiro mais europeu, e dá para afirmar que a “Velha Senhora” deu uma parada no tempo nesta década, foi superada por alguns conterrâneos, em especial a grande rival Inter de Milão.
Obviamente Felipe Anderson ganharia mais dinheiro se renovasse com a Lazio ou se fosse mesmo para a Juventus, como jornal italiano chegou a dar como algo certo. Mas o jogador tem pretensões de voltar à seleção brasileira e acredita que estando em seu país a sua chance de ser lembrado por Dorival Júnior aumenta.
O treinador já declarou na sua apresentação que planeja levar mais jogadores que atuam no futebol brasileiro para a equipe pentacampeã mundial. O fato de o Palmeiras já estar classificado para o turbinado Mundial da Fifa de 2025 é um atrativo, mas até aí a Juventus também está garantida na disputa.
Só que, até lá, é mais fácil Felipe Anderson levantar títulos com a camisa alviverde do que com a popular alvinegra da “Bota”. Inclusive, ele pode até tentar um outro título mundial se vencer a Libertadores deste ano, uma vez que haverá uma espécie de retomada da velha Copa Intercontinental, nos moldes do Mundial que a Fifa vinha realizando anualmente desde 2005. O
Palmeiras tem reais condições de brigar por títulos internacionais de grande expressão hoje, coisa que está difícil para a Juventus neste momento de baixa do Calcio.
A Bundesliga, que colocou dois de seus times nas semifinais da Champions League, hoje está à frente da Serie A. E a sensação da temporada europeia, o Bayer Leverkusen de Xabi Alonso, pode vencer também a Europa League. O time alemão é favorito contra qualquer italiano que enfrentar no caminho.
Abel Ferreira ganha um salário europeu no Palmeiras, o que também o faz não voltar para seu continente de origem. A estabilidade que o clube alviverde oferece hoje para seus profissionais é um bom atrativo.
O futebol brasileiro aumentou neste ano o limite de estrangeiros por time, estamos vendo cada vez mais profissionais de fora nos nossos clubes. A nossa economia, segundo cálculos do FMI, está tecnicamente empatada com a da Itália. Isso não se reflete ainda totalmente no futebol, mas é mais uma mostra de que a diferença entre o Calcio e o nosso mercado não é tão díspar.
O Italiano é mais visto no mundo e está no continente que reúne a nata da modalidade, isso lhe dá vantagem. Mas na prática o Brasileiro não fica atrás, mesmo com todos os nossos problemas de calendário, a bagunça da CBF e a ausência de uma liga independente que saiba se vender melhor mundo afora.
O velho Palestra Itália hoje rivaliza com a velha Itália. Capice?