Da experiência como perseguido ao incentivo à perseguidora, o que Richard Gadd já falou sobre sua vivência que inspirou sucesso da Netflix
Desde que estreou na Netflix, ‘Bebê Rena’ se tornou um sucesso. Nesta terça-feira, 23, é a série mais assistida da plataforma de streaming por brasileiros. Ao longo de sete episódios somos apresentados a história do bartender e comediante Donny Dunn, que passa a ser perseguido por uma mulher chamada Martha.
A vida de Donny virou de cabeça para baixo ao conhecer Martha, uma perseguidora com uma obsessão que ameaça destruir os dois”, diz a sinopse disponibilizada pela Netflix.
Baseado em uma história real, a trama retrata uma experiência vivida por Richard Gadd, o próprio protagonista de ‘Bebê Rena’, que, durante três anos, passou a ser perseguido por uma “mulher vulnerável”.
No trailer de ‘Bebê Rena’, podemos ver os rumos que a perseguição toma. Em uma apresentação, Dunn fala sobre o que está vivendo: “Eu não tenho ideia de como isso vai acabar. Eu só acho que um de nós vai ter que morrer”, explica ele, enquanto uma risada maníaca, vindo de Martha, surge da plateia.
Após seis meses de perseguição, o comediante decide denunciá-la à polícia por assédio no mundo real e virtual; o que não significa o fim da perseguição. “Eu tenho a sensação de que você vai ser o meu fim”, diz a mulher em outra cena.
Com isso em mente, confira cinco relatos do comediante que foi perseguido na vida real! Os próximos parágrafos podem apresentar spoilers.
1. História verdadeira
O que torna ‘Bebê Rena’ tão cativante é que a trama da série é baseada em uma experiência real vivida pelo ator Richard Gadd. No entanto, vale ressaltar, algumas situações foram adaptadas para a trama, como o nome da perseguidora ser Martha, por exemplo.
Na vida real, Gadd conheceu uma mulher de meia-idade em 2015 e passou a ter sua vida tomada pelo caos após ser perseguido durante três anos. “É uma história verdadeira”, disse à Netflix.
“De uma forma estranha, comecei a sentir que esta poderia ser uma boa história durante toda a provação em si. Foi um dos períodos mais intensos, quando recebia essas mensagens de voz. Eu ia dormir à noite e essas mensagens de voz — as palavras dela saltavam pelas minhas pálpebras”, continuou.
Lembro de ter pensado: ‘Deus, se algum dia eu falar sobre isso no palco, eu preciso mostrar os áudios. Colocar as mensagens de voz em uma grande cacofonia e reproduzi-las'”, finalizou.
2. Oportunidade da série
Embora ‘Bebê Rena’ seja um sucesso na Netflix, a ideia da série era debatida há algum tempo. Conforme recorda o Today, Gadd falou sobre sua experiência no Festival Fringe de Edimburgo de 2019, quando a Netflix o abordou para criar uma série de TV — o comediante teve o cuidado para abordar a temática com muita delicadeza antes de tudo mais.
Perseguidores, na televisão, tende a ser algo muito sexual. Tem uma mística. É alguém que está num beco escuro. É alguém que é muito sexy, muito normal, mas depois fica estranho aos poucos”, disse ao Tudum.
“Mas perseguir é uma doença mental. Eu realmente queria mostrar as camadas da perseguição com uma qualidade humana que eu nunca tinha visto na televisão antes. É uma história de perseguidor que virou de cabeça para baixo”, continuou.
3. Experiência
Durante o tempo em que foi perseguido, o comediante Richard Gadd recebeu mais de 41 mil e-mails, 744 tweets, mais de 100 páginas de carta, dezenas de mensagens no Facebook e cerca de 350 horas de mensagem de voz; além de presentes inusitados como uma rena de brinquedo, cueca e até comprimidos para dormir.
Em entrevista ao programa This Morning, Gadd explicou a extensão de sua experiência de perseguição. “Ficou muito ruim. Ficou implacável. A certa altura, foi como um ataque a todos os sentidos, através de todos os meios de comunicação: e-mail, telefones, tudo. Parecia uma barragem, uma espécie de problema constante 24 horas por dia, 7 dias por semana”.
4. Incentivo ao perseguidor
O comediante também reconheceu, ainda ao This Morning, que desempenhou um papel importante no ‘incentivo’ ao seu perseguidor. “Eu estava em uma situação ruim. Cometi erros estúpidos. Eu meio que senti que precisava de alguém para me dar atenção de uma forma porque minha confiança estava no fundo do poço”.
Richard revelou que experimentou uma “catarse” ao escrever sobre suas experiências e disse que o processo “tem sido a melhor terapia”. Sobre ‘Bebê Rena’, ele diz esperar que as pessoas entendam que a produção não se trata da história de uma vítima.
Eu queria mostrar as nuances da condição humana, na verdade. Eu queria mostrar que as pessoas são uma mistura de bom e mau e acho que as histórias de perseguidores geralmente tendem a ser sobre se uma pessoa é boa, e uma pessoa é má. E eu queria meio que fugir disso”, continuou.
5. Perto da realidade
Por fim, em entrevista à GQ, Gadd aponta que ‘Bebê Rena’ é “bastante verdadeira” se comparada com sua experiência pessoal. “Sempre que algo fosse enfeitado demais, eu preferi por tirá-lo. É extremamente emocionalmente verdadeiro”.
Claro, este é um meio onde a estrutura é tão importante que você precisa mudar as coisas para proteger as pessoas… Mas gosto de pensar, artisticamente, que nunca se afastou muito da verdade”, prosseguiu.
Ao ser questionado sobre o que sua perseguidora pensaria ao assistir à série, ele comentou: “Sinceramente, não consegui saber se ela iria assistir. Suas reações às coisas variavam tanto que eu quase não conseguia prever como ela reagiria a qualquer coisa”.
“Ela era uma pessoa bastante idiossincrática. Fizemos um grande esforço para disfarçá-la a tal ponto que não acho que ela se reconheceria. O que foi emprestado é uma verdade emocional, não um perfil factual de alguém”, finalizou.