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Manor Lords – Primeiras Impressões

Manor Lords - Primeiras Impressões

Do centro da minha idílica vila, admiro a minha casa senhorial, ladeada de um mercado vibrante, uma igreja concorrida e uma taberna mais animada. Para lá das poucas dezenas de casas que fazem deste vilarejo o melhor local do reino, aldeões trabalham arduamente na colheita de trigo, enquanto o perigo espreita nas florestas à minha volta, com bandidos prontos para assaltar os meus armazéns. Olhando para trás, as minhas muitas horas em Manor Lords pintaram um cenário de sonho, mas é a olhar para frente que faz o meu entusiasmo crescer – este jogo de estratégia e gestão ainda está em acesso antecipado, e a julgar pelos alicerces que já apresenta, tem um futuro muito risonho pela frente.

É muito importante realçar que Manor Lords não é um produto acabado. Não obstante o furor que está a causar na Steam, o estúdio Slavic Magic é constituído por apenas uma pessoa, que fez um trabalho assinalável, que de certa forma, me faz lembrar a incrível dedicação de Eric Barone, o produtor de Stardew Valley, que ainda hoje continua a lançar atualizações para o jogo, fruto da sua infindável paixão e criatividade. Ora, Manor Lords faz questão de me relembrar que está em desenvolvimento em muitos momentos, o que também demonstra uma refrescante honestidade e confiança no trabalho feito.

Manor Lords é bastante divertido. Há um certo prazer inegável em ver a nossa pequena aldeia crescer passo a passo, e as ferramentas de construção são bastante intuitivas e fáceis de usar. Ao criar uma zona de habitação posso definir quantas casas quero erguer e o tamanho dos seus quintais, que depois podem ser transformados em pequenas quintas, galinheiros ou em ferrarias, tal e qual acontecia no século XIV. Este pequeno pormenor injecta uma enorme dose de personalidade em Manor Lords – cada casa alberga uma família, que podemos acompanhar no seu dia-a-dia, quer trabalhe nas quintas ou a cortar lenha para erguer novos edifícios.

O nível de detalhe também é impressionante: até custa acreditar que este projeto foi desenvolvido por apenas uma pessoa! A forma como a neve cobre a nossa região no inverno, as estradas enlameadas durante os meses chuvosos, os próprios sons das tempestades ou as conversas dos habitantes enquanto se desdobram nas suas tarefas diárias – Manor Lords já oferece um nível de detalhe de encher o olho. Até podes assumir a pele do teu personagem e passear a pé na tua cidade, outra funcionalidade que ainda está em desenvolvimento, mas que dá um pitada de magia deliciosa a Manor Lords.

Esta funcionalidade ainda está limitada, mas é um detalhe assinalável.

Mecanicamente, o loop central de Manor Lords é simples de se perceber, mas torna-se mais complexo à medida que avançamos nas cadeias de produção. Basicamente, temos dois elementos centrais que nunca podem faltar: comida e combustível, na forma de lenha ou carvão, para manter as casas quentes nos meses mais frios. Ao início, é algo desafiante encontrar o equilíbrio certo, mas rapidamente deparei-me com um bom ritmo de jogo, que mantém uma fricção constante à medida que a população cresce e exige mais recursos. Em nenhum momento senti ter chegado a um ponto em que me tornei demasiado grande para falhar, mesmo quando já tinha uma série de sistemas entrelaçados.

As cadeias de produção básicas já estão bastante sólidas e auguram um sistema complexo e viciante no futuro. Há muitos fatores e recursos a ter em conta – os terrenos têm diferentes taxas de fertilidade, que os tornam apetecíveis para cultivos específicos. O trigo pode ser convertido em farinha num moinho, e depois cozido num forno comunitário; a cevada pode ser transformada malte e depois em cerveja, para ser servida nas tabernas, que ajudam a elevar a felicidade dos nosso habitantes, o que por sua vez contribui para o aumento de nível da nossa aldeia, o que por sua vez se traduz em pontos de habilidade, que desbloqueiam melhorias. A isto ainda se junta um sistema de comércio básico, que permite vender e comprar bens, e que estabelece uma base mecânica incrivelmente sólida, capaz de se expandir mais no futuro.

O inverno apresenta mais desafios, devido à falta de recursos alimentares e à necessidade de lenha adicional.

Manor Lords não vive apenas de tempos de paz. Volta e meia, é preciso recrutar milícias e enfrentar bandidos ou outros lordes. O sistema de combate é simples e de certa forma faz lembrar Total War, funcionando através de formações de cerca de 20 a 30 unidades. Podemos dar ordens simples, incitando-as a atacar agressivamente, ou a adotar uma postura mais defensiva. Por agora, é relativamente fácil lutar contra os adversários que Manor Lords oferece, especialmente a partir do momento em que conseguimos ter um grupo de soldados completo, mas tal como os restantes sistemas do jogo, a sua solidez está mais do que provada.

Manor Lords é um refrescante exemplo do que a paixão por videojogos consegue originar. Definitivamente, o Slavic Magic tem muito trabalho pela frente, mas está montada a base para um fantástico jogo de gestão e estratégia. Para já, pode não oferecer muito conteúdo, especialmente a nível de endgame ou da vertente militar, mas é um projeto que não tenho problema em recomendar aos fãs do género. Pode não ter o conteúdo suficiente para vos agarrar hoje, mas Manor Lords é um nome a não esquecer.


Pedro Pestana é viciado em gaming, café e voleibol, sensivelmente nesta ordem. Podem encontrar alguns dos seus devaneios no Twitter ou Threads.