O WhatsApp pode ser uma ferramenta ótima para comunicação, mas também sobrecarregar o usuário. Quem nunca se viu postergando para responder uma mensagem por lá? O aplicativo de bate-papo, no entanto, pode ter outras funções benéficas: um novo estudo descobriu que enviar mensagens com frequência para idosos ajuda a aliviar os sintomas de depressão.
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WhatsApp pode ser segredo simples para aliviar depressão em idosos
O estudo foi feito com idosos usuários de Unidades Básica de Saúde (UBS) em Guarulhos, cidade vizinha de São Paulo.
Veja como foi:
- O ensaio contou com 603 participantes com idades superiores a 60 anos (a média ficou em 65,1 anos) registrados em 24 UBS do Sistema Único de Saúde (SUS) na cidade;
- Eles foram selecionados a partir da ferramenta de triagem PHQ-9. Nela, há uma numeração de 0 a 27, no qual 0 a 4 é ausência de depressão; 5 a 9, depressão leve; 10 a 14, moderada; 15 a 19; moderadamente grave; e 20 a 27, grave. Os participantes tinham pontuação 10 ou mais;
- Na distribuição entre gêneros, 74,8% eram mulheres e 25,2%, homens;
- Eles foram divididos aleatoriamente em dois grupos. O “grupo de intervenção” tinha 298 participantes, que receberam mensagens de WhatsApp duas vezes ao dia, quatro dias por semana, durante seis semanas;
- O segundo, o “grupo-controle”, tinha 305 pessoas, que receberam apenas uma mensagem educacional via WhatsApp;
- Nenhuma delas recebeu suporte de profissionais de saúde.
Programa Viva a Vida garantiu acessibilidade
O programa foi batizado de “Viva a Vida” e garantiu a acessibilidade para os participantes.
Considerando o baixo índice de alfabetização entre a população idosa de baixa renda, as mensagens enviadas ao grupo de intervenção eram de voz, de cerca de três minutos de duração, ou imagens.
Eles também mantiveram a linguagem fácil e acessível. Segundo a Agência Fapesp, dois artistas gravaram suas vozes locutando frases educacionais sobre a depressão, incentivos e alertas de prevenção.
Escute uma demonstração enviada aos idosos:
Facilidade e baixo custo incentivam uso do WhatsApp na prevenção à depressão em idosos
No grupo de intervenção, 42,4% dos participantes apresentaram melhora nos sintomas depressivos. No grupo-controle, a melhora ficou em 32,2%.
A diferença pode parecer pouca, mas, para Marcia Scazufca, autora do projeto, mostra a diferença que um recurso tão simples e de custo extremamente-baixo tem em alcançar uma faixa enorme da população. Se implementado em larga escala, chegaria a ainda mais pessoas.
Segundo ela, o “Viva a Vida” deve ser visto como um primeiro passo no combate à depressão em idosos, a ser combinado com outras formas de intervenção. A facilidade de implementação e do acesso às ferramentas (no caso, o WhatsApp) também o tornam uma boa alternativa para países de baixa e média renda, como o Brasil.
A continuidade desse tipo de pesquisa poderá fortalecer ainda mais as evidências para a implementação de intervenções digitais em saúde mental, expandindo o alcance do tratamento psicossocial em um contexto global.
Marcia Scazufca