Dez anos depois de ser campeão brasileiro, o Coritiba disputava a Segunda Divisão. A equipe não ia bem e o técnico, na época, Paulo Carpegiani, chegou a jogar a toalha, dizendo que não acreditava no time. Naquele momento, Edison Mauad tomou o controle da situação, corrigiu a rota e devolveu o Coxa à elite.
Responsável pelo feito, o ex-presidente coxa-branca faleceu nesta terça-feira(18), aos 77 anos. Ele, Joel Malucelli e Sérgio Prosdócimo formaram o chamado triunvirato do Coritiba. Além do acesso, gestão foi responsável pela construção do CT da Graciosa.
Mauad era um coxa-branca apaixonado e um dirigente que não media esforços para colocar o time onde entendia que deveria estar. Ele também não fez cerimônia para romper com quem não acreditasse no clube, como conta Edu Brasil, ex-repórter e setorista do Alviverde por 32 anos.
Segundo Edu, quando era comandado por Paulo Carpegiani, o Coxa perdeu uma partida importante contra o Mogi Mirim, pela Segundona. No banco, o técnico afirmou, de forma definitiva, que não acreditava no elenco. Ao saber disso, Mauad o dispensou e a trajetória ao acesso começou a se desenrolar.
“Houve um momento em que o Coritiba teve uma virada de mesa. O Coxa foi jogar contra o Mogi Mirim e acabou perdendo. E o Carpegiani falou no banco que jogava a toalha, porque não acreditava no elenco. Edison Mauad, sabendo disso, mandou ele embora. Aí ele colocou Dirceu Krüger no lugar, na sequência, veio o Lori Sandri e eles conseguiram fazer com que o Coritiba chegasse à classificação para a elite”, relembra o ex-cronista esportivo.
Edison Mauad foi dirigente ambicioso, lembra Malucelli
Parte da gestão de Mauad, Joel Malucelli brinca que “sofreu” com o parceiro de gestão. De acordo com o atual investidor da SAF coxa-branca, Mauad sempre escolhia os melhores reforços e ele e Prosdócimo precisavam administrar a folha salarial enxuta da época.
“Ele era ambicioso e não dava tranquilidade nem para mim, nem para o Sergio Prosdócimo [risos]. A gente brincava que cada telefonema que ele dava, ele pedia a contratação de três jogadores. E, na época, tínhamos a folha de pagamento de R$ 180 mil reais. A gente trabalhava em cima de um orçamento muito apertado. E ele sempre telefonava pedindo jogadores, sempre foi assim, mas sempre chegávamos a um acordo. Ele era um entusiasta e foi responsável pelo sucesso na ida à Primeira Divisão na época”, conta Malucelli.
“No nosso triunvirato, o único que entendia de futebol, principalmente de futebol brasileiro, era ele. Então ele que comandou a equipe que dirigiu o futebol do Coxa na época. Ele entendia do futebol, principalmente, do Interior paulista. Trouxemos vários jogadores de lá e do Interior do Paraná. Ele tinha uma capacidade de conhecimento muito forte”, lembra o ex-dirigente.
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Foi naquele ano que Alex, ídolo coxa-branca, começou a brilhar no profissional. O ex-camisa 10 do Coritiba e atual técnico do Antalyaspor entrou para a família do dirigente e casou-se com a filha de Mauad, Daiane Mauad.
“Demoramos uns dois anos para fazer uma equipe competitiva, mas tudo graças a ele, dentro do orçamento e com o conhecimento dele. Ele trouxe vários craques, e era uma alegria muito grande de ver o Coritiba jogar naquela época”, afirma Malucelli.
Mauad era apaixonado pelo Coritiba
Mais do que um presidente inteligente e grande conhecedor do futebol, Edison Mauad era um coxa-branca que dedicou a vida ao clube.
“Ele sempre estava junto nas partidas, dando força para os atletas. Foi um grande dirigente. Eu acompanhei ele por muitos anos, desde a contratação da empresa dos irmãos dele para a construção do Alto da Glória”, conta Edu.
“Como dirigente, ele foi fora de série. Tanto ele como Malucelli e Prosdócimo eram torcedores do Coritiba e se agarraram à essa maneira de ser para poder ajudar o clube”, comenta.
A paixão era tanta, que o jornalista lembra de um episódio em que presenciou Mauad torcendo como nunca pelo Coxa, em 1995. Edu relata que o Alviverde jogaria com o Fortaleza, fora de casa, mas precisava de um empate ou vitória do Mogi Mirim sobre o Remo, em Belém, para ficar mais perto do acesso.
“O Edison Mauad ligou para o técnico do Mogi Mirim e disse que precisava de ajuda, que precisava de pelo menos um empate no jogo para poder se classificar. Eu lembro bem porque trabalhava na Rádio Clube, na época, e cobria todos os jogos do Coritiba, então estava em Fortaleza”, relembra Edu Brasil.
“No dia, o pessoal da rádio colocou uma linha especial para escutar o jogo em Belém. E em Fortaleza, com meu fone de ouvido no campo, fiquei rodeado pelos jogadores e dirigentes do Coritiba, incluindo o Edison Mauad e o Krüger, esperando o resultado final. Quando houve o término do jogo e a classificação, foi uma festa tremenda no meio de campo”, finaliza o ex-setorista.
Para Edu, dirigentes como Edison Mauad farão falta no futebol brasileiro atual. O ex-presidente conseguiu deixar um legado de força e doação ao Coritiba, que segundo ele, não se vê mais hoje em dia.
O Coritiba lá atrás, nos anos 1960, 70, sempre teve um cara de destaque, o Evangelino da Costa Neves, que foi um grande presidente, o Edison Mauad, Malucelli e Prosdócimo, esses caras trabalharam muito pelo clube e hoje falta alguém, principalmente no futebol. Só que mudou muito, hoje o pensamento é muito financeiro, antigamente era mais coração.