O Helmholtz Center for Infection Research (HZI), localizado na Alemanha, desenvolveu uma vacina de vetor para a Covid-19 que traz resposta imune prolongada em modelos animais, mantendo a eficácia por mais tempo do que alternativas disponíveis no mercado.
O imunizante foi apresentado pela primeira vez em 2022 pelos pesquisadores do departamento de Imunologia Viral do HZI, liderado pelo professor Luka Cicin-Sain. Agora, ele está demonstrando ser capaz de proteger contra a enfermidade.
Vacina vetorial contra a Covid-19: como funciona?
- A novidade, segundo o MedicalXpress, traz um citomegalovírus animal (MCMV. Citomegalovírus murino) na condição de vetor que expressa e entrega as informações da proteína spike do SARS-CoV-2, vírus da Covid-19;
- Uma publicação recente mostrou respostas imunes duradouras e amplas, além de proteção antiviral em camundongos;
- Ela envolveu a colaboração de instituições parceiras, tanto da Alemanha, como de outros países, como o Max Delbrück Center, em Berlim (Alemanha), e a University of Rijeka (Croácia);
- O trabalho foi publicado no Frontiers in Immunology.
Segundo o portal, é inteligente utilizar um citomegalovírus animal que não consegue se replicar em células humanas como vetor por combinar a alta imunogenicidade de infecção natural com a segurança de um vetor não replicante.
Como funcionam as vacinas vetoriais?
Nas vacinas de vetor, os vírus são usados como uma espécie de “veículo” para introduzir blocos de construção do patógeno cuja vacina é direcionada. Nos imunizantes contra a Covid-19, o gene para o projeto da proteína spike que liga o coronavírus às células hospedeiras é integrado aos vírus vetores.
Segurança para humanos
Vacinas baseadas em alguns vírus vetores podem preocupar quanto à segurança para nós. Vírus humanos utilizados como vetores precisam ser atenuados a partir de modificações genéticas.
Porém, o MCMV não precisa disso, podendo ser usado como está, pois os citomegalovírus são altamente seletivos ao hospedeiro. Ou seja, ele só se replica em células de camundongo, tornando o MCMV ideal como vetor para vacinas.
Os investigadores enxergam grande vantagem na resposta de vacinação duradoura proporcionável pelo MCMV após somente uma dose dela.
A partir de um modelo animal, eles conseguiram demonstrar que a concentração de anticorpos disponíveis para defesa contra o patógeno caso haja infecção subsequente com o SARS-CoV-2 permanece estável por seis meses após a imunização.
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Os pesquisadores croatas obtiveram resultado indicando efeito protetor ainda maior. Entenda:
Para combater os patógenos, nosso sistema imunológico tem dupla abordagem, com anticorpos específicos sendo formados e direcionados contra certas estruturas do micróbio, tornando-o inofensivo.
A seguir, mobiliza células imunológicas que reconhecem células infectadas e combatem os patógenos nela contidos de forma ativa. Nessa etapa, as células T CD8 + são as principais.
Uma vez que a pessoa é vacinada com a MCMV contra a Covid-19, os anticorpos circulantes no sangue e as células T CD8 + direcionados contra as células doentes permanecem presentes em definitivo e preparados para agir.
Agora, os pesquisadores estão estudando por que as vacinas MCMV tem efeito protetor duradouro. Contudo, uma explicação plausível é que os citomegalovírus reestimulam as células imunes por longo tempo, escondendo-se de forma quase inativa em nichos celulares do hospedeiro, chamado de latência.
Apenas quando as defesas imunológicas do organismo hospedeiro enfraquecem é que os vírus se tornam ativos, se replicam e se espalham, causando os sintomas da doença.
Os vírus vetores MCMV também tentarão se estabelecer no organismo humano, mas, como não somos os hospedeiros certos para eles, a reativação acaba não funcionando.
Nosso sistema imunológico impede que vírus murinos reapareçam no sangue, agindo contra eles tão logo produzem proteínas e antes que partículas infecciosas sejam formadas. Assim sendo, segundo a teoria, a defesa imunológica é estimulada repetidamente e o efeito da vacinação permanece inalterado.
Além disso, a imunidade à Covid-19 não diminui somente por conta da perda de células imunes, mas também pelo fato de os vírus sofrem mutação para escapar do reconhecimento imunológico pelos anticorpos.
Os imunizantes com MCMV mantêm a evolução sob controle em parte. Os cientistas usaram o gene spike da primeira variante do SARS-CoV-2 para a nova vacina. Após a vacinação com o imunizante MCMV, anticorpos específicos foram formados inicialmente contra a proteína spike original, algo já esperado.
Só que, alguns meses após a imunização, anticorpos contra variantes do SARS-CoV-2, como o ômicron, começaram a se formar e aumentar em número. Supõe-se que isso se deve a mecanismo do sistema imunológico que serve para aumentar a resistência contra os invasores por meio de mutações nas células imunológicas relevantes.
Conforme os pesquisadores, o fato de esse mecanismo ser bem suportado pela vacina MCMV é outra vantagem do conceito.
Ainda, o perfil geral favorável do vetor MCMV é completa-se por sua alta capacidade de absorção de genes de fora. Eles são trocados por genes de vírus que não são essenciais para a integridade do vírus.
Em tese, é possível introduzir diversos genes diferentes de um patógeno no MCMV simultaneamente, podendo, assim, aumentar o efeito da vacinação, ou o espectro de atividade contra variantes.
Também é tangível usar o vetor para produzir vacinas combinadas que fornecem imunidade contra várias doenças de uma só vez. A vacinação combinada contra Covid-19 e influenza é um exemplo.