Na era Mesozoica, o oceano não era cheio de vida como vemos hoje, pois houve vários períodos durante os quais suas águas praticamente não tinham oxigênio, o que causou múltiplas extinções em massa. Um recente estudo, publicado na Nature Geoscience, pode ter encontrado o gatilho causador dessa cadeia catastrófica de eventos.
A equipe buscava evidências para apoiar a teoria de que as placas tectônicas podem ter tido um papel nisso tudo. Isso porque o Mesozoico, que durou entre 185 a 85 milhões de anos atrás, também foi a época na qual o supercontinente Gonduana se partiu.
Os pesquisadores, que são da Universidade de Southampton (Inglaterra), encontraram evidências de que, com a separação, múltiplos pulsos de fósforo foram liberados do basalto (rocha vulcânica), tanto no fundo do mar, quanto nos continentes.
Em inspeção mais detalhada, tais pulsos coincidiam com os períodos de escassez de oxigênio nos oceanos, conhecidos como eventos anóxicos oceânicos (OAEs, na sigla em inglês), contudo, eles precisavam entender se ambos estavam relacionados.
Para testar a teoria, os pesquisadores usaram um modelo de computador, chamado modelo do sistema terrestre, para simular o efeito dos pulsos de fósforo na química do oceano. Então, descobriram que ele recriava a sequência de OAEs.
A seguir, precisavam entender como a abundância de fósforo levou à falta de oxigênio e, consequentemente, mudou a forma de desenvolvimento da vida marinha.
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Oceanos no passado e influência do fósforo no fim do oxigênio
- O fósforo é um dos elementos essenciais para a vida. Ele está envolvido na formação do DNA e das membranas celulares, além de ser componente-chave da principal fonte de energia das células, o ATP;
- Porém, enquanto os pulsos de fósforo levaram a aumento no crescimento e na produtividade dos organismos marinhos, a produtividade causou o afundamento de muito mais matéria orgânica no oceano;
- A decomposição da matéria orgânica consome oxigênio, o que, nesse tipo de escala, tem efeito devastador.
“Esse processo acabou fazendo com que áreas dos oceanos se tornassem anóxicas, ou com falta de oxigênio, criando ‘zonas mortas’ onde a maior parte da vida marinha pereceu”, explicou o coautor do estudo, Benjamin Mills, professor de Evolução do Sistema Terrestre na Universidade de Leeds (Inglaterra), em declaração.
Tais OAEs “foram como apertar o botão de reinicialização dos ecossistemas do planeta”, acrescentou o autor principal, Professor Tom Gernon, concluindo que “separar continentes pode ter repercussões profundas no curso da evolução”.
As descobertas não apenas fornecem compreensão aprofundada de como o estreito acoplamento entre a Terra sólida e a superfície afetou a vida passada, como, também, podem dar pistas, aos cientistas, sobre as consequências dessa convivência em nosso futuro, ainda mais porque os oceanos, atualmente, sofreram queda no oxigênio que contém.
“É notável como uma cadeia de eventos dentro da Terra pode impactar a superfície, frequentemente com efeitos devastadores”, afirmou Gernon. “Estudar eventos geológicos oferece pensamentos valiosos que podem nos ajudar a entender como a Terra pode responder a futuros estresses climáticos e ambientais”, concluiu.