Marlus Miguel tinha dez anos quando seu pai o levou ao Pinheirão para assistir à seleção brasileira recém-pentacampeã jogar em Curitiba, em 2003, contra o Uruguai. Daquela noite, o que mais ficou marcado foram os dois gols de Ronaldo no empate por 3 a 3.
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“No final do jogo, foi muito épico quando Ronaldo fez o gol e empatou o jogo. Eu lembro muito bem porque quando ele fez gol, fez aquele mesmo gesto da Copa de 2002, balançando o dedo indicador. Isso aí ficou na memória, muito marcante pra gente que é brasileiro”, conta o torcedor, 21 anos depois, ao UmDois Esportes.
Agora aos 31, Miguel vai voltar a assistir à amarelinha de perto, desta vez, no Couto Pereira, sua segunda casa. Coxa-branca, ele é presença garantida nos jogos do Alviverde há mais de 15 anos. Mas se durante a infância o clima de festa o contagiou, hoje ele teme a reação da arquibancada caso a seleção empate, como aconteceu em 2003.
“O clima do Brasil naquele jogo, todo mundo estava feliz, todo mundo gritando, porque a seleção vinha de um pentacampeonato, totalmente diferente de hoje. Talvez, se hoje o Brasil empatar ou perder, venham a acontecer vaias”, imagina.
“A gente já vem de uma sequência negativa nas eliminatórias, na Copa América e a gente fica com essa pulga atrás da orelha. O brasileiro já está de saco cheio, sempre com um time bom no papel e não rende”, diz Miguel.
Os gols de Kaká e Ronaldo
Além de Miguel, outras 23.463 pessoas compareceram ao estádio para a partida naquele ano. Dos 31 mil ingressos disponibilizados, 17.652 foram vendidos. Da arquibancada, os torcedores viram Kaká abrir o placar e Ronaldo ampliar ainda no primeiro tempo.
Depois do intervalo, o jogo ficou eletrizante quando o Uruguai virou o placar, com três gols em 31 minutos. Perto dos acréscimos, Ronaldo conseguiu segurar o empate e fazer a comemoração que ficou na mente do coxa-branca.
Se ver um gol de Ronaldo da arquibancada já foi um acontecimento, alguns ainda tiveram o privilégio de assistir ao Fenômeno em ação da beira do gramado. O jornalista Robson De Lazzari, da Rádio Transamérica, foi um dos repórteres que esteve na partida.
“Em 2003, eu trabalhava na rádio CBN, e fui escalado. Nossa, fiquei muito feliz, como agora. Cobri a semana inteira, dos treinos, entrevistas”, lembra o jornalista, que, na partida, trabalhou ao lado de Carneiro Neto, hoje colunista do UmDois Esportes.
“Pra mim foi muito marcante por tudo que a seleção brasileira representava. E na época, ainda mais, já que um ano antes tinha sido pentacampeã do mundo. O que me marcou mesmo foram os dois gols do Ronaldo. Estavam ele, Rivaldo, Kaká, essa geração. Era absurdo, né, você estar ali fazendo a cobertura. Foi uma memória muito legal”, relembra.
Ingresso para ver seleção no polêmico Pinheirão foi caro
Preparado para receber a seleção brasileira com uma reforma que, segundo arquivos da Gazeta do Povo, custou R$ 3 milhões na época, o Pinheirão foi cercado de polêmicas durante a vinda da equipe.
“O Pinheirão estava todo cheio de gambiarras para fazer aquele jogo dentro do estatuto do torcedor, que era uma exigência. Muitas coisas não foram cumpridas, houve muitas reclamações no Procon de numeração de cadeiras, de lugares ocupados, foi realmente uma bagunça. O Pinheirão não foi a melhor escolha”, conta o jornalista Rodrigo Fernandes, que cobriu a seleção pela Gazeta.
Na época, os ingressos também eram caros. O mais barato custava R$ 60 reais, valor que, ajustado pela inflação, chega a R$ 236 reais nos dias de hoje. Já o mais caro custava R$ 200, o que daria R$ 700 nos valores de hoje.
“Foi uma coisa amarrada entre Onaireves Moura e Ricardo Teixeira, os dois que fizeram esse acerto para o jogo ser em Curitiba, inauguraram um CT atrás do Pinheirão, foi um conluio entre a Federação Paranaense e a CBF para trazer esse jogo e que deu muito resultado, o ingresso era caríssimo, o estádio encheu e acabou sendo um sucesso de arrecadação”, relembra Fernandes.
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O estádio passou por uma ampliação, aumentou o número de cadeiras, a área de imprensa e o gramado foi finalizado apenas horas antes do início da partida. Mesmo assim, a estrutura não foi adequada e até mesmo os atletas reclamaram.
“A gente estava falando da principal seleção do planeta naquele momento, com os maiores jogadores, e o Pinheirão estava em um estágio muito ruim. Eu lembro do Ronaldo reclamar do vestiário na coletiva. Estava bem deprimente”, opina o jornalista.
Seleção volta em momento diferente, mas torcida acolhe
Mesmo que a última Copa do Mundo conquistada pela seleção brasileira tenha mais tempo que o último jogo em Curitiba, a reunião dos melhores jogadores do país em atividade agitou a capital paranaense.
Nas últimas apresentações da seleção, os resultados ruins acabaram criando um atrito entre os jogadores e a torcida brasileira. Por isso, esses momentos têm sido importantes para reaproximar a seleção.
“Eu acho que a relação [entre seleção e torcida] é um pouco diferente, mas pela falta de títulos mesmo. E de lá pra cá não teve, de repente, tanto brilho, apesar de alguns grandes jogadores. A relação ficou um pouco mais conturbada, mais difícil por causa dessa falta de títulos”, opina De Lazzari.
Durante toda a semana, centenas de pessoas se amontaram na porta do hotel onde a delegação está hospedada para tentar ver algum atleta. No CT, torcedores subiram nos carros e até em caminhões para tentar espiar um pouco dos treinos comandados pelo técnico Dorival Júnior.
“O que a gente está vendo agora aqui, dos ingressos praticamente esgotados, da galera toda em torno do hotel, querendo autógrafos, é que é muito especial, é muito marcante, é diferente. Porque o Brasil ainda tem estrelas absurdas do futebol mundial e nós aqui, na cidade, temos jogadores identificados, daqui e que brilharam aqui”, completa.
Nesta sexta-feira, às 22h, o Couto deve lotar para receber Brasil e Equador. Os ingressos seguem caros, mas foram praticamente esgotados. Os craques da vez são Vini Júnior, Endrick, Rodrygo, Estêvão, entre outros, neste novo ciclo. E se o clima da semana persistir, torcedores curitibanos poderão guardar mais uma boa memória com a seleção brasileira, 21 anos depois.
Relembre o jogo do Brasil no Pinheirão
Créditos: Arquivo/Gazeta do Povo