O Observatório da Discriminação Racial no Futebol divulgou nesta quinta-feira (26) a décima edição do Relatório da Discriminação Racial no Futebol. De acordo com o documento, foram registrados 136 casos no Brasil em 2023 no esporte mais popular, um aumento de 38,8% em relação à temporada anterior, que teve 98 incidentes anotados.
Manteve-se, assim, a tendência de crescimento observada desde 2016 — com exceção de 2020, em função da pandemia de Covid-19, com estádios vazios. Isso não significa necessariamente que os casos aumentaram, mas que houve mais denúncias, motivo pelo qual o resultado do levantamento não foi visto apenas com maus olhos.
“O dado não é só ruim. Também apresenta uma evolução importante, que é uma maior conscientização dos torcedores e dos jogadores. Se a gente tem mais denúncias, é porque a sociedade brasileira está mais atenta a entender o que é racismo e as suas diversas formas de expressão”, afirmou o fundador e diretor-executivo do Observatório, Marcelo Carvalho.
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O novo relatório foi apresentado no Rio de Janeiro, na sede da CBF (Confederação Brasileira), parceira do Observatório no projeto, do qual também participou o Grupo de Estudos sobre Esporte e Discriminação da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). O presidente da confederação, Ednaldo Rodrigues, discursou e prometeu esforço na busca por soluções.
“O aumento dos casos reportados em relação à temporada anterior reforça a gravidade do problema e os desafios persistentes, que urgem, mais do que nunca, ações inovadoras, efetivas e continuadas, de forma a romper com a passividade e a cumplicidade histórica com o racismo”, afirmou o dirigente.
“Acreditamos que a batalha contra o racismo, em suas diferentes formas, não pode ser vencida de forma isolada. Somente a cooperação entre os diferentes agentes que integram nossa sociedade poderá assegurar às futuras gerações um mundo em que o respeito e a dignidade sejam valores universais, não exceções”, acrescentou Ednaldo.
O documento é produzido a partir de informações da mídia nacional e internacional, obtidas por sistemas de monitoramento. Elas passam por uma análise que identifica os detalhes de cada caso, descritos um a um no relatório. As ocorrências, então, são divididas por local: estádios (104, no caso de 2023), internet (19) e outros espaços (13).
O estudo ainda divide geograficamente os itens, de modo a identificar de onde partem as denúncias. Dentre aquelas relativas a situações observadas nas arenas, o estado com mais casos anotados é o Rio Grande do Sul (20), seguido por São Paulo (18), Minas Gerais (10), Santa Catarina (8) e Rio de Janeiro (6).
O grupo responsável pelo estudo incluiu no último ano também outros tipos de discriminação, como LGBTfobia, machismo e xenofobia, incluindo outras modalidades esportivas em seu escopo e ocorrências fora do Brasil com atletas brasileiros. Nesse recorte mais amplo, observou um aumento de quase 7% nos casos em relação ao ano anterior.
Foram 250 incidentes, 222 no Brasil e 28 com atletas do país em terras estrangeiras. A divisão ficou também em 222 a 28, respectivamente, entre as ocorrências no futebol e aquelas vistas em outros esportes. O racismo teve mais registros, com 184, seguido por LGBTfobia (41), xenofobia (14) e machismo (11).
Os números, repete Carvalho, não são totalmente ruins. Em sua conclusão do relatório, ele celebra que, “se, antes, piadas e atitudes racistas passavam como brincadeiras, hoje são identificadas como racismo”. Ele aponta ainda que atualmente existe ao menos um arcabouço legal mais bem organizado com previsão de punições aos agressores.
“Mas, apesar de todos esses avanços, estamos distantes do mundo ideal, afinal a maioria dos casos continua sem punição aos envolvidos, poucos agressores vão presos, e quase nenhum fica detido por muito tempo. Se leis não faltam, o que falta?”, indaga o fundador do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.
“O país que ama futebol, que tem a maior população negra fora do continente africano, que venera seus ídolos negros, ainda precisa avançar no combate à discriminação racial e, principalmente, entender que a luta não se resume à punição. Precisamos avançar na conscientização e na educação, precisamos de ações urgentes de inclusão da diversidade nos quadros de comando e gestão”.