Se o ano passado não foi dos melhores para os bancos de investimento, com queda de 17% nas comissões, o Itaú BBA não tem do que se queixar. O banco se segurou na liderança do ranking, pelo segundo ano consecutivo, com uma fatia de 13% do bolo. É seguido por Bank of America e BTG Pactual, segundo dados da Dealogic.
Após encararem M&As cambaleantes, IPOs inexistentes e emissões de dívida concentradas, os bancos no país somaram receita de US$ 717 milhões em 2023, ante US$ 861 milhões em 2022. Mas a queda de juros deixa as instituições mais otimistas para 2024.
“Temos uma dinâmica diferente no mercado para este ano e espero janelas menos demarcadas que em 2023, com uma espiral positiva dando um ritmo mais regular às operações”, diz Cristiano Guimarães, chefe do banco de investimento do Itaú BBA, ao Pipeline. “O tom para mercado será dado pelo tripé de disciplina fiscal, controle inflacionário e a queda nos juros, seja aqui, seja nos EUA. Se as coisas acontecerem conforme o esperado, a volatilidade será substancialmente menor do que em 2023 e os mercados de dívida e equity funcionarão bem ao longo do ano, o que não ocorreu ano passado.”
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Em dívida, ele lembra que o mercado encolheu 50% no primeiro semestre, para retomar volume no segundo — o que garantiu os fees no maior mercado para IBs no país. A renda fixa tem uma “auto-geração de recursos”, define o executivo, com a extensão de vencimentos, mas uma fatia maior foi absorvida pelos próprios bancos emissores.
“Ainda não temos dados do fim do ano mas até outubro tivemos aproximadamente R$ 250 bilhões de operações originadas, dos quais R$ 125 bilhões foram distribuídos para mercado e o restante ficou com os bancos”, diz. “O volume total do ano deve ser 20% menor na comparação anual, com metade apenas para mercado, quando em 2022 esta participação foi em torno de 55%.”
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Para este ano, Guimarães projeta crescimento de 15% nos volumes transacionados em dívida, puxado por operações incentivadas como fundos imobiliários e de infraestrutura, com a maior absorção pelos investidores institucionais. “A nova debênture de infraestrutura, que dá benefício fiscal ao emissor pela regulação 2646, deve ser um trigger para isto”, emenda.
Já em ações, os meses com maior atividade foram junho a agosto. O ano somou 22 follow-ons no país, 19 dos quais o banco atuou na coordenação — incluindo, por exemplo, Localiza, Smartfit e privatização da Copel. É um número de operações superior aos 17 de 2022, mas andando de lado em volume, considerando o peso da oferta de Eletrobras há dois anos.
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Contabilizadas as operações de venda em bloco, no entanto, o montante fica 20% acima do ano anterior em equities. O BBA fez metade dos block trades, tirando comissões em 93% do volume movimentado em ações no período.
Muitas operações foram feitas para reequilibrar a estrutura de capital das companhias, contando com participação relevante de controladores e acionistas da base para isso, dado ainda o desconto dos papéis na comparação histórica.
Em bolsa, Guimarães espera que a queda de juros aumente a migração do capital local da renda fixa para fundos de ações e que o estrangeiro, que retomou fluxo no fim do ano, continue redirecionando capital para cá. “Isso dá espaço para mais oferta de ações. Um bom número para 2024 seriam 35 operações e R$ 60 bilhões de volume, sendo cinco a 10 IPOs”, diz Guimarães, destacando que a queda de juros ajuda o empresário a retomar a confiança de investir em projetos de longo prazo, que precisam de financiamento.
Isso também se reflete nas transações de fusões e aquisições (M&A). No ano passado, foram 300 transações com volume de R$ 230 bilhões no país, seguindo os dados compilados pela consultoria americana e pelo banco brasileiro, queda anual de 15%. “Isso se refletiu em uma queda da ordem de 20% do fee pool, dado que a safra de 2021/2022 havia sido bastante forte”, diz.
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Não foi exclusividade brasileira: o volume global de M&A caiu 23% no ano, o pior da década, e o menor em número de transações desde 2005, segundo a Dealogic.
O BBA fez 33 operações com um volume de R$ 70 bi transacionado, e Guimarães destaca as transações cross border. A instituição assessorou a transação de R$ 6 bilhões em terras e madeira entre a brasileira Klabin e a chilena Arauco, atuando nas duas pontas, algo incomum no segmento. Já na venda da Biotrop para a Biobest, assessorou fundos controladores da empresa brasileira na venda para a belga, enquanto esteve ao lado da Iberdrola na venda de ativos de transmissão no Brasil ao fundo soberano GIC e da brasileira Eurofarma na compra de ativos no exterior.
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“Uma estimativa desafiadora de mercado seria atingirmos R$ 300 bilhões em volume. Trabalharia com um número mais perto de R$ 250 bilhões. O mercado de M&A não teve grandes guinadas ao longo dos últimos 10 anos”, pondera. Guimarães lembra ainda que os fundos de private equity, ainda que capitalizados e diante de múltiplos menores, foram mais cautelosos no ano passado e devem retomar volume de M&As neste ano.
O BBA tem cerca de 300 pessoas no Brasil, América Latina, EUA e Europa, entre IB e corretora. “Estamos sempre em busca dos melhores e da forma mais eficiente de atender ao cliente. Temos a consciência de que estamos líderes e não somos líderes, o que não nos deixa espaço para acomodação”, garante.