Herdeira da empresa química alemã BASF, Marlene Engelhorn chamou atenção na última semana ao afirmar que pretende doar sua fortuna
Na última semana, uma ativista austro-alemã de 31 anos, chamada Marlene Engelhorn, chamou atenção da mídia internacional ao decidir doar sua fortuna equivalente a US$ 27 milhões. O dinheiro, no caso, é proveniente de uma herança que recebeu de sua avó, Friedrich Engelhorn, que fundou a empresa química multinacional alemã BASF em 1865.
Vale lembrar que assim que ela anunciou a pretensão de fazer a doação, ainda em 2022, grande parte da mídia internacional divulgou que ela havia herdado uma quantia que, convertida em reais, daria equivalente a uma fortuna de 20 bilhões. No entanto, em entrevista ao jornal ARA, da Espanha, ela disse que tinha algumas dezenas de milhões de euros — convertendo em dólares, US$ 27 milhões.
+ Herdeira austríaca quer doar fortuna de US$ 27 milhões;
Além disso, na época, também foi dito que a jovem rejeitaria a fortuna. Ela, na verdade, aceitou a herança, mas pretendia doar o valor. Importante ressaltar que Marlene Engelhorn é cofundadora da Taxmenow, uma iniciativa que luta para acabar com a desigualdade de classe e incentiva a taxação de grandes fortunas — os impostos sobre heranças foram abolidos na Áustria em 2008.
Herdarei uma soma de dois dígitos em milhões de euros, e não rejeito esse dinheiro. Quero poder distribuir pelo menos 90% dele, idealmente através de impostos. Se não, buscarei minhas próprias maneiras de fazê-lo”, disse Engelhorn ao ARA.
“Na minha opinião, isso não é uma questão de vontade, mas uma questão de justiça“, disse ela também em outra ocasião, em entrevista de maio de 2021 ao portal austríaco Der Standard. “O 1% mais rico das famílias austríacas possui quase 40% de todos os ativos. Nas nossas sociedades, a riqueza individual está estruturalmente ligada à pobreza coletiva.”
Processo de doação
Conforme apurado pela equipe Aventuras na História, para iniciar seu projeto de doação, Engelhorn pretende formar o “Bom Conselho para a Redistribuição“, um grupo com 50 pessoas selecionadas aleatoriamente na Áustria, que foram convidadas para compôr uma amostragem a representar toda a população austríaca.
Herdei uma fortuna, portanto, poder, sem ter feito nada por isso. E o estado nem quer tributá-la. Entretanto, muitas pessoas com empregos a tempo inteiro lutavam para sobreviver e pagavam impostos sobre cada euro que ganhavam com o seu trabalho”, diz Marlene no TEDx Talks, segundo o jornal britânico The Times.
“Não é a herança que deve garantir que estou bem na vida, mas a forma como contribuo para a sociedade e o fato de cuidarmos uns dos outros na sociedade. Mas se o meu nascimento é o fator decisivo, então algo está errado. Porque não somos uma sociedade que define as pessoas pelo nascimento, mas uma democracia”, completa.
Logo, conforme é o desejo de Marlene Engelhorn, uma vez que o conselho estiver formado, o grupo possui carta-branca para doar toda a fortuna a quantas instituições desejar, sejam nacionais ou internacionais.
Contanto que as doações não financiem atividades desumanas ou inconstitucionais, além de uma cláusula impedir que o dinheiro seja entregue as organizações com fins lucrativos ou qualquer outra atividade que impossibilite a redistribuição da riqueza.
O conselho deve se reunir ao longo de seis semanas em Salzburgo (localizada a pouco menos de 300 km de Viena, capital da Áustria) com especialistas, para que o destino da herança de Engelhorn seja decidido.
Descoberta da fortuna
Estudante de alemão na Universidade de Viena, Marlene Engelhorn trabalha na organização filantrópica Guerrilla Foundation, localizada em Berlim, na Alemanha, de acordo com o g1. A origem de sua fortuna, por sua vez, vem da BASF, uma empresa química alemã líder mundial na área, fundada em 1865 por Friedrich Engelhorn.
O anúncio de que ela doaria a maior parte de sua fortuna ocorreu pouco depois que sua avó — Traudl Engelhorn-Vechiatto, na época com 95 anos — revelou planos que já tinha para o dinheiro da neta. No entanto, Marlene surpreendeu com sua própria decisão, que só pôde acontecer também graças a grande liberdade de ação que lhe foi dada pela avó.
Minha avó me deu uma enorme liberdade de ação, que agora eu gostaria de usar para abrir um debate público. Não trabalhei um dia pelo dinheiro e não pago um centavo de imposto para receber”, contou ao Der Standard.
Porém, nas palavras da própria herdeira, o dinheiro repentino não lhe traria satisfação e realização: “Quando o anúncio foi feito, eu percebi que não poderia ser realmente feliz. Pensei comigo mesma: ‘Algo está errado.'”
Além disso, em outra entrevista, ao canal televisivo austríaco ORF2, a jovem herdeira contou que a decisão é, para si, muito mais uma questão de “justiça”: “Essa não é uma questão de querer, mas uma questão de justiça. Eu não fiz nada para receber esta herança. Foi pura sorte na loteria do nascimento. Uma coincidência.”
“A sociedade não tem que contar com o fato de que os milionários vão ser benevolentes. Troco ideias com outras pessoas, aprendendo o máximo que eu posso para ver o que funciona e o que não funciona. Para mim, o comprometimento com a justiça de impostos é muito importante, porque isso é que determina como a riqueza vai ser distribuída”, disse ela.