Ilhéus está de volta à televisão, com o remake de “Renascer”, que estreou na última segunda-feira, 22 de janeiro, na TV Globo. A cidade, que já foi a capital do cacau no Brasil, pode não ser a protagonista do turismo no sul da Bahia , mas vale a viagem. Especialmente para quem é interessado na combinação de história e natureza que o lugar apresenta.
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A história do coronel de cacau José Inocêncio foi criada por Benedito Ruy Barbosa, e sua segunda versão foi adaptada pelo neto do autor, Bruno Luperi. Mas é outo escritor que está intimamente ligado a Ilhéus. Apesar de ter nascido na vizinha Itabuna, foi em Ilhéus que Jorge Amado passou boa parte da infância. E foi de lá que saiu a inspiração para alguns de seus romances fundamentais, como “Cacau” (1933), “Terras do Sem-Fim” (1943), “São Jorge de Ilhéus” (1944) e, claro, “Gabriela, cravo e canela” (1958). Não à toa há muitas referências ao escritor baiano e a sua obra espalhadas pelo centro histórico da cidade.
Um roteiro pela cidade também não está completo sem visitas a fazendas que já plantaram ou ainda plantam cacau, onde é possível conhecer como era todo o processo, entender como a praga da vassoura de bruxa acabou com a atividade econômica e aprender as novas técnicas usadas para a produção de uma amêndoa de melhor qualidade, que resulta num chocolate premium. E, como estamos no sul da Bahia, é impossível fazer tudo isso sem incluir uma ou duas praias no caminho.
Quem voltar a se inspirar na novela para visitar a região, terá muito o que ver. A seguir, alguns destaques:
Fundada em 1534, Ilhéus é uma das cidades mais antigas do Brasil. Mas pouca coisa restou dos primeiros séculos, como a Igreja Matriz de São Jorge Ilhéus, a mais antiga do município, de 1556. A maior parte das construções que se vê no belo centro histórico vem da segunda metade do século XIX e da primeira do XX, justamente o momento em que o plantio do cacau se torna a principal atividade econômica do local e faz daquela região a maior produtora da amêndoa no mundo.
A riqueza deste momento histórico é visível, por exemplo, na arquitetura da Catedral de São Sebastião, construída entre 1931 e 1967, em estilo neoclássico e cuja cúpula central alcança 48 metros de altura. Ou no Palácio Paranaguá, concluído em 1907 e que depois de décadas abrigando a prefeitura, se transformou no Museu da Capitania de Ilhéus, fundamental para quem quer conhecer mais a fundo a história da cidade. O Teatro Municipal e o Palacete Misael Tavares, onde funciona um museu sobre o ciclo do cacau, são outras paradas imperdíveis no Centro Histórico.
A poucos passos da catedral, na mesma Praça Dom Eduardo, está talvez o ponto mais fotografado da cidade: a estátua em bronze de Jorge Amado, sentado num banco em frente ao Bar Vesúvio. O estabelecimento, ótimo pontapé inicial para o circuito inspirado no escritor, aparece em “Gabriela, cravo e canela” como local em que Rachid se apaixona pela personagem que dá nome ao livro. Hoje, o Vesúvio é um verdadeiro ímã de turistas, atraídos não apenas pela história do lugar, mas pelos salões do prédio aberto em 1915, que preservam a decoração da belle époque. Funciona como restaurante e, em determinadas noites, recebe apresentações artísticas, como montagens de peças de teatro inspiradas na obra de Jorge Amado.
Outra “locação” presente na história de Gabriela é o Bataclan, onde a fictícia cafetina Maria Machadão atuava. Na vida real, o casarão foi aberto na década de 1920 e por quase 30 anos foi o principal prostíbulo e cassino da cidade, mantido pelos coronéis do cacau e pelos muitos homens de negócios que circulavam por Ilhéus. Tudo isso começou a mudar na década de 1950, quando foi fechado. Depois de muitos anos de abandono, na década de 1990 foi reformado e hoje abriga um restaurante e recebe visitantes em espaços temáticos, como “o quarto de Maria Machadão”.
“Gabriela, cravo e canela” e toda a obra do autor são destaque na Casa de Cultura Jorge Amado, que funciona no antigo palacete que foi o endereço da família do escritor quando viveu em Ilhéus. O espaço, aberto em 1997, guarda um importante acervo histórico como documentos, fotos, livros, roupas e outros objetos que pertenceram não apenas a Amado, mas também a seus pais.
Jorge Amado dá nome também ao aeroporto local, que recebe voos regulares vindos de cidades como Salvador, Belo Horizonte (Confins), São Paulo e Campinas, operados por Latam, Gol e Azul.
A riqueza que ainda se vê no Centro Histórico de Ilhéus tem suas raízes nas muitas fazendas produtoras de cacau desta região no sul da Bahia. Muitas delas ainda plantam a fruta e trabalham a amêndoa, só que agora para produzir um chocolate de melhor qualidade. E algumas estão abertas à visitação.
É possível agendar por conta própria ou contratar passeios junto a empresas de receptivo local para visitar fazendas históricas como a Yrerê, Capela Velha e Primavera – esta, aliás, o cenário escolhido como locação das duas versões de “Renascer”. Nelas é possível ver os pés de cacau e conhecer o processo de beneficiamento da amêndoa, de onde é feito o chocolate. Aliás, muitas delas já fabricam o próprio doce, em estado gourmet.
A maior parte dessas propriedades rurais fica na chamada Estrada do Chocolate, um roteiro temático que tem Ilhéus como ponto de partida, mas que se espalha por municípios vizinhos, como Uruçuca, Canavieiras, Itabuna e até Itacaré, pegando boa parte da BA-262, que liga Ilhéus à BR-101.
As praias de Ilhéus são divididas em três grupos, referentes à localização em relação ao centro da cidade: Norte, Centro e Sul.
As mais procuradas pelos visitantes e com melhor estrutura são as Praias do Sul, em especial a Praia dos Milionários, com boa oferta de restaurantes à beira-mar. As praias do Centro são as mais urbanizadas, ótimas para caminhadas no fim de tarde e prática de esportes náuticos, como a Praia do Cristo, numa área de encontro do rio com o mar. Para quem quer algo mais roots, a dica é rumar para as Praias do Norte, mais selvagens e menos movimentadas.
Distante do litoral, mas não menos bonita, é a Lagoa Encantada. Esta área de preservação ambiental de 6 quilômetros quadrados é cercada por um pedaço generoso de Mata Atlântica, onde se pode nadar e passear de barco pela lagoa, tomar banho em duas cachoeiras, caminhar por trilhas na mata e comer nos restaurantes locais. Um pequeno paraíso, é verdade, mas que exige uma certa provação, já que fica a 34 quilômetros do centro da cidade, sendo 13 em estrada de terra.