Douglas Costa deve ser confirmado como reforço do Fluminense nos próximos dias. O ponta, que soma passagens por equipes como Bayern de Munique e Juventus, na Europa, e pela seleção brasileira, estava no Los Angeles Galaxy, da Major League Soccer. O desempenho irregular nos Estados Unidos, com uma decepção que parecia esperada, é o tema da nossa análise.
A qualidade técnica de Douglas Costa é tão inquestionável quanto seu currículo. O sucesso em Ucrânia, Alemanha e, em certo momento, Itália o levou a uma Copa do Mundo. Mas problemas físicos e situações extra-campo jogaram contra o ponta nos últimos anos, com saída conturbada do Grêmio após o rebaixamento do clube e uma passagem sem sucesso na MLS.
Focando nos quase dois anos que Douglas Costa ficou em Los Angeles, convidamos o jornalista Kevin Baxter, do Los Angeles Times, para analisar a trajetória do ponta brasileiro na MLS.
Reforço milionário
Douglas Costa somou oito gols e oito assistências em 51 jogos no futebol norte-americano. A média é de uma participação em gol a cada 185 minutos em campo. Com Douglas Costa sendo substituído no segundo tempo, o Galaxy caiu nas semifinais da Conferência em 2022 no clássico contra o Los Angeles FC. Em 2023, o time nem chegou aos playoffs. Na primeira Leagues Cup, o time ficou na lanterna do grupo, perdendo para León, do México, e Vancouver Whitecaps, do Canadá.
O brasileiro chegou na MLS para assumir um lugar de Designated Player, espaço no elenco das equipes para um jogador que recebe acima do teto da liga. Era o segundo jogador mais bem pago do elenco, atrás de Chicharito Hernández, ídolo por lá, e entre os dez mais bem pagos da liga.
Greg Vanney, técnico de Douglas em L.A
Depois de rescindir o contrato com o Grêmio, em saída conturbada após ter pedido liberação da diretoria para participar da festa de casamento com a esposa Nathália Félix na véspera do jogo que marcaria o rebaixamento do clube, Douglas Costa assinou contrato milionário com o L.A Galaxy. Como Kevin Baxter lembrou, o ponta brasileiro não era a primeira opção do clube.
“O time realmente queria o Cristian Pavon, da Argentina, que já havia jogado no Galaxy antes. Mas por conta de problemas legais na Argentina, eles não poderiam correr o risco com ele. Então o Costa foi a segunda opção”, comentou.
A comissão técnica do Galaxy relutou bastante antes de contratar Douglas Costa, principalmente por conta da parte física do ponta, que sofreu com lesões musculares em Porto Alegre.
“O técnico Greg Vanney parecia muito apreensivo pela condição física do Douglas, e também pela motivação. Ele me disse na época: ‘Nenhum de nós acredita que ele vai chegar ao fim da temporada sem lesão. Falamos com os médicos do clube anterior. Ele é uma Ferrari, não é um carro de longo alcance. Queremos trabalhar para maximizar os minutos dele em campo'”, recordou o jornalista, citando o técnico.
“Então parecia que o Vanney estava se preparando para se desapontar e acho que os torcedores também. Os torcedores queriam o Douglas Costa do Bayern, mas ele não era mais esse cara. Ele muitas vezes estava machucado, e quando estava bem, não parecia se comprometer o suficiente”, completou.
Falta de motivação e comprometimento
No período de MLS, Douglas Costa sofreu com algumas suspensões. Foram sete cartões amarelos e dois vermelhos. Para Kevin, o brasileiro não mostrou o comprometimento necessário.
“Ele levou alguns cartões vermelhos estúpidos, por exemplo. E em mais de uma partida não pareceu seguir a estratégia do treinador. Quando ele está bem fisicamente e motivado, ele é ótimo, fantástico. O melhor jogador no campo, de longe. Ele ainda tem talento, mas nem sempre a motivação, o que frustra as pessoas. Na MLS, os times realmente precisam dar minutos aos Designated Players, e o Costa começou apenas 31 de 68 jogos da temporada regular, o que não é bom o suficiente para um dos dez jogadores mais bem pagos da liga”.
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Uma palavra que apareceu a todo momento na conversa com Kevin foi “falta de comprometimento”. A postura de Douglas Costa fora das quatro linhas pareceu ter irritado não apenas jogadores e comissão em Los Angeles: o jogador chegou a ser vaiado pela torcida.
“Ele irritou ambos, os companheiros e a comissão com a falta de comprometimento para com o time. Alguns jogadores deram declarações falando sobre a falta de jogo coletivo, sobre alguns comportamentos individualistas. Ninguém citou diretamente o Costa, mas todo mundo entendeu que era ele. E ele era constantemente vaiado, principalmente quando o time não ia bem”, destacou.
A saída de Douglas Costa do Galaxy foi antecipada, e o clube, logo depois de não se classificar para os playoffs, deixou claro que não renovaria o contrato do ponta, o liberando do acordo antes do fim do mesmo. Foi uma passagem marcada por lampejos, mas sem nunca ter chegado ao ápice, como Kevin Baxter resume.
“Ele mostrou lampejos. Em alguns jogos, como disse, ele era o melhor disparado no campo. Quando ele queria jogar, e estava motivado, ele poderia ser o melhor jogador da MLS. Mas esses momentos eram raros. Uma coisa sobre a MLS é que ela é uma liga difícil, a viagem é dura, o futebol não é o principal esporte nos EUA, então os hotéis são diferentes, a estrutura é diferente, a atenção da mídia é menor. Então se você é um jogador como o Douglas Costa, pode ser difícil. Não acho que ele estava preparado para isso. Jogadores como Robbie Kean e Giorgio Chiellini puderam se adaptar, e outros, como Gerrard e Lampard, não”.
A única conclusão possível, projetando a ida para as Laranjeiras, é que só uma pessoa pode dizer se Douglas Costa será, ou não, um fracasso: o próprio jogador. Tudo dependerá da motivação do ponta. O fracasso na MLS já é uma página virada. Há uma página em branco para ser escrita, vestindo tricolor.