A escassez hídrica tornou-se um alerta global. Em 2016, a Organização das Nações Unidas (ONU) projetou que até o ano 2050 mais de 50% da população mundial enfrentará problemas decorrentes da falta de água. Diante dos frequentes desastres no Brasil, atribuídos às mudanças climáticas, e da carência de infraestrutura para lidar com eventos climáticos extremos, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) instituiu um Grupo de Trabalho de Segurança Hídrica e Cidades Resilientes dedicado a abordar de maneira específica nesta temática.
O grupo é uma iniciativa da a Comissão de Meio Ambiente e Sustentabilidade (CMA) e a Comissão de Obras Industriais e Corporativas (COIC) da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), que visa contribuir, principalmente, na formulação de procedimentos sugestivos para aprimorar a legislação em busca de uma gestão hídrica mais eficaz, destacou o vice-presidente de obras industriais e corporativas da CBIC, Ilso Oliveira.
De acordo com Oliveira, o tema é de extrema importância e do ponto de vista técnico, considera que ampliar o debate e o conhecimento sobre a temática, pode reduzir consideravelmente no médio prazo impactos negativos na área. “O primeiro passo é reconhecer que precisamos de um plano de gestão hídrica nas cidades, e mais que isto que ele seja cumprido e atualizado periodicamente”, disse.
O tema gestão hídrica está intimamente ligado às mudanças climáticas, à necessidade de cidades mais resilientes, ratificou o vice-presidente de meio ambiente e sustentabilidade da CBIC, Nilson Sarti. Para ele, é preciso preparar as cidades para as mudanças que têm ocorrido. Diante dos diversos acidentes presenciados no Brasil nos últimos anos, Sarti destaca a falta de política pública para drenagem urbana e a necessidade de inovação na área.
“Estamos convivendo, cada vez mais, com essa mudança climática com o excesso de água ou com falta de água, isso exige uma preparação das nossas cidades. É preciso entender que tudo o que temos hoje como referência dos últimos 50, 60 anos vão ser ultrapassadas”, disse.
A distribuição de água no Brasil não ocorre de forma homogênea, os dados apontam uma gestão hídrica frágil, que necessita de uma reestruturação, alerta a consultora da CBIC e Diretora da Infinity Tech, Virgínia Sodré.
De acordo com a consultora da CBIC, a distribuição desigual de recursos hídricos no país revela disparidades significativas entre as regiões. “A região Norte, detentora de mais de 68% da água, contrasta com sua proporção populacional relativamente baixa, representando apenas 6,98% do total. Enquanto regiões que concentram maior parte da população brasileira, como o Sudeste, contam com apenas 6,0% dos recursos hídricos”, apontou.
A consultora ressalta ainda que a análise destaca a necessidade de uma gestão hídrica equitativa e adaptada às particularidades de cada região. “A redução da disponibilidade hídrica, a demanda crescente e os conflitos dos usos múltiplos da água indicam uma amplificação dos desafios atuais num futuro próximo”, disse Virgínia.
Com o crescimento do adensamento urbano em áreas com estresse hídrico, a população também sofre com a destinação inadequada dos resíduos sólidos. “Aproximadamente 40% dos resíduos sólidos gerados no Brasil não possuem destinação adequada, são dispostos lixões controlados”, apontou.
Diante deste cenário, o GT de Segurança Hídrica e Cidades Resilientes da CBIC surge para ampliar o debate sobre os impactos causados pelo desmatamento, ocupações dos mananciais, falta de infraestrutura de saneamento e gestão ineficiente da água. Para o grupo, as temáticas estão correlacionadas e destaca o fato de que o ciclo da água está diretamente ligado ao clima.
O grupo destaca a importância de reconsiderar a gestão de água urbana no Brasil, pois as cidades tornam-se mais vulneráveis a riscos climáticos devido ao ambiente construído. Esses riscos podem exercer pressão sobre os sistemas urbanos, intensificando as emissões de carbono e agravando questões como a escassez hídrica e as inundações
“A eficiência do uso da água ajuda a reduzir os gases do efeito estufa e a adoção destas medidas concretas pode contribuir para que as empresas e países atinjam as suas metas de redução de carbono”, apontam representantes do grupo.