Francisco canoniza María Antonia de San José, descrevendo-a como uma “viajante do espírito” e “um modelo de fervor e audácia apostólica”
Da redação, com Vatican News
O Papa Francisco presidiu a missa de canonização de Maria Antónia de San José de Paz e Figueroa, mais conhecida como Mama Antula, na Basílica de São Pedro, na manhã deste domingo, 11, Dia Mundial do Enfermo.
A primeira Leitura e o Evangelho deste domingo “falam da lepra, uma doença que causa a progressiva destruição física da pessoa e que muitas vezes, infelizmente, ainda está hoje associada em certos lugares com atitudes de marginalização”. “Lepra e marginalização são dois males de que Jesus quer libertar o homem que encontra no Evangelho”, disse Francisco em sua homilia.
“Aquele leproso é obrigado a viver fora da cidade. Fragilizado pela doença, em vez de receber ajuda dos seus concidadãos, é abandonado a si mesmo, acabando duplamente ferido pelo afastamento e a rejeição”, sublinhou o Pontífice. As pessoas mantinham distância, pois tinham medo de serem contagiadas e ficarem como ele. Mantinham distância também por preconceito, pois pensavam que fosse “um castigo de Deus por alguma falta que ele cometeu, e também por uma falsa religiosidade, porque pensavam que tocar um morto tornava a pessoa impura, e os leprosos eram pessoas cuja carne lhe «morria no corpo». Trata-se de uma religiosidade distorcida, que levanta barreiras e mina a piedade”.
“Lepras da alma”
“Medo, preconceito e falsa religiosidade: aqui estão três causas de uma grande injustiça, três «lepras da alma» que fazem sofrer uma pessoa frágil, descartando-a como qualquer desperdício”, disse ainda o Papa, acrescentando que “não se trata de coisas só do passado”.
“Quantas pessoas sofredoras encontramos nos passeios das nossas cidades! E quantos medos, preconceitos e incoerências, mesmo entre quem acredita e se professa cristão. Esses medos continuam ferindo essas pessoas ainda mais! Também no nosso tempo há tanta marginalização, há barreiras a derrubar, «lepras» a curar.”
“Mas como?”, perguntou Francisco, indicando como resposta dois gestos que faz Jesus: tocar e curar.
Jesus sente compaixão daquele homem, para, estende a mão e o toca.
O Senhor poderia evitar de tocar naquela pessoa; bastava «curá-la à distância». “Mas Cristo não pensa assim; o seu caminho é o do amor, que o faz aproximar de quem sofre, entrar em contato, tocar as suas feridas. A proximidade de Deus. Jesus está próximo, Deus está próximo. O nosso Deus, queridos irmãos e irmãs, não se manteve distante no céu, mas em Jesus fez-se homem para tocar a nossa pobreza. E perante a «lepra» mais grave, que é o pecado, não hesitou em morrer na cruz, fora das muralhas da cidade, rejeitado como um pecador, como um leproso, para tocar a fundo a nossa realidade humana. Um santo escreveu: «Ele se tornou leproso por nós».”, sublinhou Francisco.
O Papa convida a tomar cuidado com a “lepra da alma”.
“Uma doença que nos torna insensíveis ao amor, à compaixão, que nos destrói com as «gangrenas» do egoísmo, preconceito, indiferença e intolerância.”
“Tenhamos cuidado”, advertiu ele, “também porque, como acontece na fase inicial da doença com as primeiras manchas de lepra que aparecem na pele, se não se tomar medidas imediatas, a infeção cresce e torna-se devastadora”.
Deixar-se tocar por Jesus na oração e na adoração
“Diante desse risco, da possibilidade dessa doença em nossa alma, qual é a cura?”, perguntou o Pontífice. A resposta se encontra no segundo gesto de Jesus: curar. “De fato, aquele seu «tocar» não indica apenas proximidade, mas é o início da cura. A proximidade é o estilo de Deus: Deus é sempre próximo, compassivo e terno. Proximidade, compaixão e ternura. Este é o estilo de Deus. Estamos abertos a isso? Pois é deixando-nos tocar por Jesus que nos curamos intimamente, no coração. Se nos deixarmos tocar por Ele na oração, na adoração, se Lhe permitirmos agir em nós através da sua Palavra e dos Sacramentos, o seu contato muda-nos realmente, cura-nos do pecado, liberta-nos de fechamentos, transforma-nos para além daquilo que podemos fazer sozinhos, com os nossos esforços”, disse ainda o Papa.
“As nossas partes feridas, as do coração e da alma, as doenças da alma devem ser levadas a Jesus. É isto que faz a oração; não uma oração abstrata, feita apenas de repetição de fórmulas, mas uma oração sincera e viva, que depõe aos pés de Cristo as misérias, as fragilidades, as falsidades, os medo”.
“E eu deixo Jesus tocar as minhas «lepras», para que me cure?”, perguntou o Papa. “Ao «toque» de Jesus”, respondeu Francisco, “retorna a beleza que possuímos, a beleza que somos; a beleza de ser amados por Cristo, redescobrimos a alegria de nos doar aos outros, sem medos e sem preconceitos, livres de formas de religiosidade anestesiante e desinteressada da carne do irmão; retoma força em nós a capacidade de amar, para além de todo e qualquer cálculo e conveniência”. Vive-se a cada dia a “caridade sem alarde: na família, no trabalho, na paróquia e na escola; na rua, no escritório e no mercado; a caridade que não busca publicidade nem precisa de aplausos, porque ao amor basta o amor”.
“Proximidade e discrição”, é o que Jesus nos pede, e “se nos deixarmos tocar por Ele, também nós, com a força do seu Espírito, poderemos tornar-nos testemunhas do amor que salva”, como nos ensinou Santa Maria Antónia de San José, conhecida como «Mamã Antula».
“Ela foi uma viajante do Espírito. Percorreu milhares de quilômetros a pé, por desertos e estradas perigosas, para levar Deus. Hoje, ela é um modelo de fervor e audácia apostólica para nós. Quando os jesuítas foram expulsos, o Espírito acendeu nela uma chama missionária baseada na confiança na providência e na perseverança.”
Ela invocou a intercessão de São José e, para não cansá-lo muito, também a de São Caetano Thiène. Por essa razão, introduziu a devoção a este último, e sua primeira imagem chegou a Buenos Aires no século XVIII. Graças a Mama Antula, esse santo, intercessor da Divina Providência, entrou nas casas, nos bairros, nos meios de transporte, nas lojas, nas fábricas e nos corações, para oferecer uma vida digna por meio do trabalho, da justiça, do pão de cada dia, na mesa dos pobres. Peçamos hoje a Maria Antónia, Santa Maria Antónia de Paz de San José, para que ela possa nos ajude muito.
“Que o Senhor abençoe a todos nós”, concluiu o Papa.
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