Para acessar o sistema nervoso em neurocirurgias, os médicos precisam abrir uma camada chamada dura-máter. Ela funciona como uma barreira biológica que protege o cérebro e a medula espinhal. Por ela também flui um líquido cefalorraquidiano (LCR) que, em casos de lesões ou operações, pode vazar e levar a complicações neurológicas ou até à morte.

Quando a cirurgia acaba, o corte na dura-máter precisa ser fechado com suturas e incertos que não são tão eficazes em evitar um vazamento. Por isso, cientistas se inspiraram na natureza para criar um novo adesivo altamente aderente e resistente.

Tecnologia bioinspirada

  • O DTA (adesivo resistente Dural) foi inspirado na lesma Dusky Arion (Arion subfuscus), que tem a capacidade de se prender em superfícies para evitar ser predada.
  • Com base nas propriedades da substância que permite à lesma grudar em lugar, os cientistas criaram um hidrogel com duas redes poliméricas.
  • Uma delas confere elasticidade e a outra, adaptabilidade e resistência.
  • Em conjunto com o hidrogel, há uma camada de adesivo de quitosana, um composto encontrado no exoesqueleto de crustáceos como camarões.
  • Tudo isso permite que o adesivo cole em superfícies molhadas de tal modo que mesmo grandes pressões não o tirem do lugar.
Imagem: Science Translational Medicine

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Na prática, o adesivo deu certo?

A tecnologia adesiva foi projetada inicialmente para cumprir a função de suturas em outros tecidos como tendões, tubo neural de bebês e útero, mas essa foi a primeira vez que foi adaptada para ser utilizada no sistema nervoso.

Alguns experimentos foram realizados tanto in vitro como dentro dos organismos de ratos e porcos para testar o adesivo. No geral, ele superou a capacidade de reparo dos selantes cirúrgicos utilizados atualmente. Em comparação, aderiu aos tecidos significativamente mais e aguentou pressões mais elevadas antes de se romper.

Em ratos, o adesivo manteve sua estrutura por pelo menos quatro semanas e causou apenas irritação mínima, comparável aos selantes comerciais. No organismo de porcos, as incisões reparadas com DTA não apresentaram vazamento sob aumento leve na pressão do fluido, enquanto as reparadas com outro selante vazaram em 40% dos casos.

O adesivo também foi aplicado em tecido cadavérico humano, sendo implantado com sucesso em áreas com vazamentos na base do crânio e resistindo a pressões intracranianas artificiais. Detalhes dos resultados dos experimentos foram divulgados na revista Science Translational Medicine.

Facilitador cirúrgico no sistema nervoso

O pesquisador David Mooney, que liderou os estudos, enfatizou o avanço que o adesivo trará à área da neurocirurgia para o Medical Xpress.

Estamos entusiasmados por abrir uma nova perspectiva para os neurocirurgiões com este estudo que, no futuro, poderá facilitar uma variedade de intervenções cirúrgicas e reduzir o risco para os pacientes que precisam ser submetidos a elas.

David Mooney



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