Ao conceder entrevista coletiva como diretor do Athletico, na tarde da última quarta-feira (9), Paulo Autuori criou na audiência mais atenta a sensação de filme repetido.
Apesar dos cenários distintos e momentos diferentes, no Furacão, o veterano gestor repetiu em diversos momentos frases e pensamentos que já havia emitido quatro meses antes, quando foi anunciado como diretor do rival, Coritiba.
Eliminado da Copa do Brasil e Sul-Americana e vivenciando crise profunda na Série A do Brasileirão, o Athletico tentou recorrer à experiência de Autuori para acalmar os ânimos de sua aflita torcida.
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Com o presidente Mario Celso Petraglia afastado fisicamente do cotidiano do Furacão por razões de saúde, o clube aparenta viver um vácuo de gestão no CT do Caju. Diante da omissão dos demais membros da diretoria eleita, coube a Autuori tentar preenchê-lo.
Autuori repete no Athletico filosofia própria já usada no Coritiba
Personagem singular no futebol brasileiro, Paulo Autuori diferencia-se dos demais pela forma original de pensar: sempre que possível, procura inserir os fatos e eventos do futebol em um cenário mais amplo, criando uma filosofia própria bastante conhecida por quem o acompanha.
Paulo Autuori em entrevista coletiva no Athletico
“O futebol é vida”
No entanto, para quem já havia acompanhado a entrevista coletiva de apresentação de Paulo Autuori no rival Coritiba, no dia 13 de maio deste ano, houve pouca novidade.
Eficiência x eficácia
Autuori no Coritiba: “Rendimento em futebol se traduz de duas maneiras: eficiência, ou seja, a maneira como sua equipe joga, propõe, tanto com ou sem a bola. E eficácia. Você pode ser muito eficiente na maneira como joga, mas não é eficaz. E o que é ser eficaz em futebol: fazer o gol”.
Autuori no Athletico: “Nestes momentos você tem que ter muito claro o caminho a se seguir. Sem firulas. Com objetividade, assertividade, e com eficiência e eficácia. Que, aliás, são aspectos que nos trazem a este momento. Eficiência é fazer bem feitas as coisas. Se eu trouxer para o futebol, é jogar bem, criar oportunidades de gol. E eficácia é concretizá-las”.
Necessidade de reforços e o exemplo do Chelsea
Autuori no Coritiba: “Esta visão simplista de que chegou, botou dinheiro, contratamos, não é real. Se pararmos para ver, o Chelsea, há uma temporada e meia atrás, gastou 1 bilhão de reais na contratação de reforços, e foram muitos, mas ao final não conseguiu uma equipe”.
Autuori no Athletico: “O Chelsea, por exemplo, que gastou 2 bilhões de reais na janela, contratou jogadores e, no início da temporada, teve de se desfazer de 46 jogadores. Não é garantia de que você vá melhorar a sua qualidade”.
A diferença entre ser e estar
Autuori no Coritiba: “Importante que as pessoas entendam o quão distinto é o ser do estar. O estar é algo momentâneo, passageiro. Então, o momento que estamos certamente será passageiro. O ser é algo duradouro. E o Coritiba foi, é e sempre será enorme, grande”.
Autuori no Athletico: “O que temos de entender é a diferença entre o ser e o estar. O estar é algo passageiro, momentâneo. Eu posso ser bom, e não falo apenas de futebol, e passar por momentos difíceis. Eu posso não ser tão bom e passar por momentos bons. Então, a diferença entre o ser e o estar para mim é muito clara. E reflete o momento atual”.
Os sinais e as tendências
Autuori no Coritiba: “O grupo de jogadores te dá sinais. Estes sinais, se são positivos, são sinais que geram tendências. Trabalhamos com tendências. Muitas vezes, os resultados não estão a acontecer, mas estes sinais estão no dia a dia, e te geram uma tendência de que rapidamente se poderá ultrapassar este momento”.
Autuori no Athletico: “Todos nós vivemos de tendências. O dia a dia nos dá sinais claros, evidentes. E quando você tem estes sinais positivos, no dia a dia, que não têm a ver apenas com resultado, gera uma tendência (…). E quando você tem sinais que são negativos, gera uma tendência negativa”.
As opiniões e os fatos
Autuori no Coritiba: “Uma coisa são os fatos. Outra coisa são as opiniões. Eu me cinjo aos fatos. O que eu falo, através das palavras, que geram uma ideia e um discurso, é uma opinião. Por essa vivência, idade cronológica e tempo de serviço, acho que posso falar de fatos”.
Autuori no Athletico:”Uma coisa são opiniões, outra são fatos. Como sempre fiz, irei me ater aos fatos. Porque as opiniões… O mais lindo da vida é a liberdade que cada um tem de opinar e expressar opiniões. Esta, cada um de nós, deve ter até a morte o dever de salvaguardá-la. Então, vou falar de fatos e não de opiniões”.
“O futebol é generoso”
Autuori no Coritiba: “Isto não sou eu quem falo. Um amigo meu, peruano, já falecido, colocou isso e guardei isso. Porque permite tudo. Você faz tudo certo para ganhar e não ganha. E você não faz nada para ganhar e ganha. Por quê? Pelo fato do imponderável. Ainda é um jogo”.
Autuori no Athletico: “Um amigo meu peruano, falecido, teve uma frase que eu captei para mim e falo sempre para as pessoas com as quais convivo, vivo e trabalho. ‘O futebol é generoso’. E aí eu perguntei para ele: ‘Mas por que você fala isso?’. Ele me respondeu: ‘Permite tudo’. Até quem faz tudo para ganhar, não ganha. E quem não faz porra nenhum para ganhar, ganha. Assim é o futebol”.