O câncer pulmonar resultado da exposição por amianto costuma ser letal, o que dificulta pesquisas mais incisivas sobre formas de tratamento. Agora, pesquisadores analisam o potencial de um biomarcador chamado mesotelina a prever mortalidade de pacientes diagnosticados, na esperança de encontrar novas formas de entender o avanço da doença.
Câncer pulmonar estudado costuma ser letal
Pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) analisaram a mesotelina como potencial terapia contra tumores do tipo mesotelioma pleural maligno.
Leia mais:
Como explicou uma das autoras, a professora do Departamento de Patologia da FMUSP, Vera Luiza Capelozzi, ao Jornal da USP, a pleura é uma membrana que reveste os pulmões e contribui para a expansibilidade e elasticidade dos pulmões durante a respiração.
No entanto, quando indivíduos são expostos a alguns materiais nocivos, como o amianto, podem ter reações inflamatórias. A longo prazo, isso pode crescer para desenvolver o mesotelioma maligno, câncer associado à exposição ao amianto.
O tumor, por sua vez, é altamente agressivo e os pacientes diagnosticados costumam ter sobrevida de seis a 13 meses, com o câncer afetando os tecidos pulmonar e cardíaco, além de outras estruturas.
Ainda não há tratamento direcionado e o acompanhamento costuma envolver quimioterapia, mas a resposta acaba não sendo efetiva a longo prazo.
Biomarcador pode ajudar no tratamento
Aí é que entra a mesotelina:
- Segundo Capelozzi, existe um gene codificado pela célula mesotelial chamado mesotelina, que codifica proteína homônima;
- Esta, por sua vez, atrai para perto do tumor células linfoides T e linfócitos, desejáveis para o combate de diferentes tipos de câncer – incluindo o pulmonar;
- A proteína já era conhecida e estudada em animais, mas pouco analisada em humanos;
- A pesquisa, então, analisou o efeito da proteína no paciente e avaliou o ambiente no qual a célula tumoral cresce e progride;
- O estudo se deu a partir de 82 casos de pacientes com exposição ao amianto. Neles, a proteína emerge como promissora no tratamento, podendo coibir o crescimento e a invasão dos tecidos.
Há desafios na análise do câncer pulmonar
A professora revelou que a mesotelina esteve presente em mais de 70% dos pacientes estudados. O uso dela pode ser combinado com outros tratamentos para gerar resposta imunológica mais efetiva para destruir o tumor.
Mas há um problema. Ensaios clínicos nesse sentido já estão em andamento, mas os pacientes com câncer pulmonar do tipo estudado não costumam sobreviver por muito tempo e, raramente, ultrapassam o estágio 3, o que dificulta conclusões.
Segundo Capelozzi, é necessário mais tempo de recrutamento de pacientes para comparar resultados e ser mais efetivo no tratamento.