Veículos de várias partes do mundo publicaram informações divulgadas em primeira mão pelo jornal americano The New York Times na tarde de segunda-feira (25/3).
As reportagens chamam atenção para os laços entre o ex-presidente brasileiro e o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, que são classificados como dois dos principais expoentes da direita radical no mundo.
Segundo a publicação do New York Times, a permanência de Bolsonaro na embaixada se devia a uma “aparente tentativa de pedir asilo político”.
Bolsonaro nega essa versão. Em nota divulgada por seus advogados, ele afirma que esteve hospedado “a convite” e “conversou com inúmeras autoridades do país amigo atualizando os cenários políticos das duas nações”.
“Quaisquer outras interpretações que extrapolem as informações aqui repassadas se constituem em evidente obra ficcional, sem relação com a realidade dos fatos”, complementa o texto.
Confira a seguir como a imprensa internacional reagiu à estada de Bolsonaro na embaixada da Hungria.
‘Troca de gentilezas’
O New York Times, que obteve acesso às imagens de segurança que comprovam a passagem do ex-presidente brasileiro pela embaixada, destacou em sua reportagem que “a estada indica que Bolsonaro tentava aproveitar a amizade com um colega líder da direita radical, o primeiro-ministro Viktor Orbán, da Hungria, numa tentativa de escapar do sistema de justiça brasileiro enquanto enfrenta investigações criminais no Brasil”.
A reportagem ainda destaca que Bolsonaro e Orbán mantêm um relacionamento próximo há anos, “encontrando pontos em comum como dois dos líderes de direita radical em nações democráticas”.
O texto lembra que Bolsonaro já chamou Orbán de “irmão”. Pouco tempo depois, Orban devolveu a gentileza ao classificar Bolsonaro como um “herói”.
Por fim, o New York Times lembra que Bolsonaro disse em março que não tem medo de ser preso. “Eu poderia muito bem estar em outro país, mas decidi voltar aqui apesar de todos os custos”, discursou o ex-presidente num evento semanas atrás.
A reportagem aponta que “alguns rivais políticos de Bolsonaro aproveitaram as notícias de segunda-feira para pedir a prisão dele, alegando que o ex-presidente está mais uma vez sinalizando possíveis planos de fuga”.
“Uma fonte da Polícia Federal confirmou à Associated Press que a investigação acontece em reação a uma reportagem do The New York Times”, aponta o Washington Post.
Novas investigações e desdobramentos
O El País, da Espanha, lembrou que a permanência na embaixada da Hungria aconteceu “quatro dias depois que a Justiça retirou o passaporte de Bolsonaro como uma medida cautelar enquanto ele é investigado por supostamente tecer um golpe de Estado com militares da ativa e da reserva”.
A publicação acrescenta que o Itamaraty convocou o embaixador húngaro para esclarecimentos.
O El País avalia que “o cerco judicial em torno de Bolsonaro não parou de se apertar desde que ele perdeu as eleições e o poder”.
“Ele enfrenta diversas investigações. A mais grave, a de preparar um golpe de Estado para impedir que seu arquirrival, Luiz Inácio Lula da Silva, assumisse o poder após as eleições. Outra, por guardar algumas joias como presente da família real saudita. E uma terceira por falsificar a carteira de vacinação. Em nenhuma das três ele foi formalmente acusado até agora.”
A Bloomberg repercutiu a fala de Paulo Gonet, o procurador-geral da República. Durante um evento no Congresso Nacional na segunda-feira (25/3), ele pediu “paciência” para analisar os últimos acontecimentos.
No Reino Unido, o jornal The Guardian observou que a embaixada da Hungria fica “a uma curta viagem de carro do palácio presidencial que um dia foi ocupado por Bolsonaro”.
O The Guardian informa que, em 8 de fevereiro, dia em que os passaportes de Bolsonaro foram confiscados durante uma operação da Polícia Federal, o primeiro-ministro húngaro postou no X (o antigo Twitter) uma fotografia em que aparece apertando a mão de Bolsonaro.
“Um patriota honesto. Continue lutando, senhor presidente!”, escreveu Orbán nas redes sociais.
“Bolsonaro não deixou claro por que decidiu visitar a embaixada. No entanto, ele expressou publicamente o receio de ter o mesmo destino que a ex-presidente da Bolívia, Jeanine Áñez. Em 2022, Áñez foi condenada a 10 anos de prisão depois de ser considerada culpada de ajudar a orquestrar um suposto golpe de Estado de 2019 que a levou ao poder após a queda do presidente Evo Morales”, escreveu o jornal britânico.
“Antes de sua derrota eleitoral, Bolsonaro disse que via apenas três futuros possíveis para ele: prisão, morte ou vitória. O vídeo do New York Times sugere que uma quarta alternativa pode agora ser considerada: uma nova vida como inquilino na embaixada húngara, onde, ao abrigo do direito internacional, não poderia ser preso.”