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Canabidiol pode tratar dependência de crack, revela estudo

O tratamento de usuários de crack com canabidiol (CBD) apresentou resultados melhores na redução da dependência e de efeitos adversos em relação aos medicamentos convencionais usados nos Centros Psicossociais de Álcool e Drogas. A conclusão faz parte de um estudo pioneiro realizado por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB).

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Canabidiol apresentou resultados promissores

A pesquisa envolveu 73 usuários que foram alocados aleatoriamente, por sorteio, em dois grupos: 37 ficaram no de controle e 36 no grupo CBD. Os primeiros receberam remédios convencionais usados na dependência do crack. São eles: fluoxetina (antidepressivo), ácido valproico (estabilizador de humor) e clonazepam (ansiolítico) e um óleo placebo para simular o CBD.

Já o grupo CBD recebeu um óleo de canabidiol (50 mg/ml de CBD), sem THC (tetra-hidrocanabinol, que é um dos principais componentes psicoativos da planta), e três comprimidos placebo, que simulavam os medicamentos tradicionais.

Os participantes compareceram uma vez por semana, durante dez semanas, para receber um kit de medicação, responder aos questionários sobre uso de crack e de outras drogas, passar por uma equipe psicossocial e pelo médico, além de fazer o teste toxicológico de urina, que foi analisado pelo Instituto de Criminalística da Polícia Civil do Distrito Federal.

Os resultados mostram que o CBD pode atenuar os sintomas primários relatados pelos participantes, como falta de apetite, dificuldade em reduzir o uso de crack e a sensação de saúde debilitada. O grupo que fez uso do canabidiol também apresentou melhores resultados na redução do uso do crack e menos eventos adversos em comparação com o grupo controle.

Esses efeitos colaterais, como constipação, náusea, tontura, diarreia, problemas de memória, baixa concentração e visão turva, podem ser ainda mais acentuados em pessoas com dependência de crack devido à dosagem excessiva e à combinação desses medicamentos. Além disso, estudos apontam que eles contribuem para a baixa adesão ao tratamento de dependentes de crack nos serviços de saúde.

Canabidiol
Canabidiol foi usado em estudo pioneiro realizado por pesquisadores brasileiros (Imagem: shutterstock/PanuShot)

Desafios para a pesquisa

  • O estudo da UnB foi publicado na revista científica International Journal Mental Health and Addiction.
  • O trabalho teve financiamento da Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF) e foi o primeiro a receber autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para importar canabidiol para fins de pesquisa científica.
  • Foram necessários dois anos de negociações para liberação da carga, considerada proibida.
  • A pandemia da Covid e as atividades presenciais acadêmicas suspensas por mais de um ano também foram obstáculos.
  • Em 2021, o Ministério da Saúde não autorizou o recebimento de emenda parlamentar da deputada Érika Kokay (PT/DF) para continuar o financiamento do estudo.
  • Foram alegadas questões técnicas para o veto.
  • Segundo os pesquisadores, a decisão foi “uma clara e evidente censura à pesquisa, considerando que o uso de cannabis medicinal conflitava com a orientação ideológica do governo de Jair Bolsonaro”.
  • As informações são da Folha de São Paulo.