Será que a inteligência artificial (IA) generativa impulsiona nossa criatividade ou bloqueia ela de alguma forma? É isso que dois pesquisadores investigaram – com foco no ChatGPT – num estudo publicado nesta semana. Em suma, a IA ajudou a criatividade de alguns participantes, mas estreitou o escopo dela.
Confira abaixo um resumo sobre a pesquisa:
- Metodologia do estudo: A pesquisa envolveu três grupos de escritores – um que utilizou apenas suas próprias ideias, outro que usou uma única sugestão do ChatGPT e um terceiro que trabalhou com cinco prompts gerados pela IA. As histórias resultantes foram avaliadas com base em critérios como novidade, utilidade (probabilidade de publicação) e prazer emocional;
- Resultados por nível de criatividade: Escritores com baixas pontuações iniciais de criatividade se beneficiaram mais das sugestões da IA, melhorando a qualidade de suas obras. Em contrapartida, aqueles com alta criatividade prévia obtiveram pouco ou nenhum benefício das ideias geradas pela IA;
- Limitações da IA: O estudo também apontou que as histórias criadas com o auxílio de IA eram menos diversas e exibiam características de escrita menos autênticas, sugerindo limitações na habilidade da IA em gerar conteúdo verdadeiramente inovador e único;
- Implicações futuras: Oliver Hauser, um dos pesquisadores, destacou a importância de uma avaliação rigorosa dos grandes modelos de linguagem e da inteligência artificial generativa, antes de sua implementação ampla, para realmente entender seus efeitos sobre atividades humanas (criatividade, por exemplo).
No quesito criatividade, IA pode ajudar e atrapalhar ao mesmo tempo
O novo estudo comparou centenas de contos criados exclusivamente por humanos a contos criados com a ajuda criativa da IA generativa do ChatGPT. O artigo foi publicado na Science Advances pela dupla de pesquisadores – um da University College London e outro da Universidade de Exeter.
Foi assim: um grupo de escritores teve acesso apenas às suas próprias ideias, um segundo grupo pôde pedir ao ChatGPT por uma ideia de história, e um terceiro pôde trabalhar com um conjunto de cinco prompts feitos pelo ChatGPT. Depois, as histórias foram avaliadas através dos seguintes critérios:
- Novidade;
- Utilidade (leia-se: probabilidade de publicação;
- Prazer emocional.
Esses resultados apontam para um aumento na criatividade individual com o risco de perder a novidade coletiva. Essa dinâmica se assemelha a um dilema social: com a IA generativa, os escritores estão individualmente melhores, mas coletivamente é produzido um escopo mais estreito de conteúdo novo.
Trecho de artigo sobre estudo relacionado a IA e criatividade publicado na Science Advances
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Os pesquisadores “mediram” a criatividade dos participantes antes da sessão de escrita por meio de uma tarefa de produção de palavras comumente usada que estabelece um padrão de criatividade entre os respondentes.
Quem teve pontuação mais baixa nesses testes de proxy de criatividade conseguiu pontuação melhor em suas escritas pessoais ao aproveitarem ideias geradas por IA. Já para aqueles com pontuações de criatividade já altas, as ideias de IA ofereceram pouca ou nenhuma ajuda.
Outro ponto importante: o conjunto de histórias auxiliadas por prompts gerados por IA foi considerado menos diverso e exibiu características de escrita menos autênticas, sugerindo os limites da engenhosidade geral do ChatGPT.
Nosso estudo representa uma visão inicial sobre uma questão muito grande sobre como os grandes modelos de linguagem e a inteligência artificial generativa mais geralmente afetarão as atividades humanas, incluindo a criatividade… Será importante que a IA seja realmente avaliada rigorosamente — em vez de apenas ser implementada amplamente, sob a suposição de que terá resultados positivos.
Oliver Hauser, um dos pesquisadores envolvidos no estudo, ao TechCrunch