Em novembro de 2022, surgia algo que cativou a curiosidade dos mais distantes da tecnologia, ao mesmo tempo em que chacoalhou o mercado. O ChatGPT, chatbot de inteligência artificial generativa da OpenAI, promoveu uma verdadeira corrida por esse tipo de tecnologia. Agora, em 2024, os chatbots em si podem até não ser os protagonistas de pesquisas e geração de conteúdos que muitos apostavam. Talvez, seja uma questão de tempo. A ver.
O mais importante me parece ser a abertura que a tecnologia por trás desse chatbot deu para outros vários setores. Estivemos na CES 2024, em Las Vegas, em janeiro. Não tinha uma área destinada à inteligência artificial no evento. Todos os pavilhões — e são todos imensos —, da robótica ao automotivo, do metaverso à saúde, contavam com exposições de tecnologias abastecidas pela IA.
Como alguém que acompanha o noticiário como forma de trabalho, eu vejo dia após dia que essa tecnologia já triunfou. Agora é correr atrás de mais desenvolvimento, regulação, ética e uma coexistência saudável com o trabalho humano.
OD no Gramado Summit
Pensando em tudo isso, o Olhar Digital promoveu um debate no Gramado Summit, um dos mais importantes eventos de tecnologia e inovação do País. Nossos convidados foram Alessandra Montini, diretora do Laboratório de Análise de Dados da Fia Business School, além de colunista do OD; e Christiano Faig, vice-presidente de Vendas de Soluções & Tecnologia da Microsoft Brasil.
A conversa girou em torno de quatro temas principais: mercado, homem vs máquina, regulamentação e futuro.
Comecei perguntando à professora se ela mantinha a opinião dela do começo do ano, quando escreveu um artigo para o Olhar Digital falando que 2024 seria o ano da IA. Segundo Alessandra Montini, a avaliação se mantém e foi reforçada. Inclusive, ela destacou que surpreende a velocidade com que as tecnologias se desenvolveram e foram adotadas nas mais diversas áreas.
Na avaliação da professora, a IA pode e deve ser uma aliada. Contudo, é preciso se precaver. Quem não souber usar essas ferramentas e não se adequar aos novos tempos, pode ficar para trás.
A IA é uma ferramenta muito importante nos dias de hoje, principalmente com a era da IA generativa. Ela cria texto, inventa, organiza e nos ajuda. Na minha área, por exemplo, sou professora e uso essa tecnologia como minha aliada. Ela gera textos, apresentações, cria provas e corrige as provas. Fica com as tarefas mais operacionais e eu fico mais pensando em ajudar os alunos e fazer da criatividade algo sempre novo e inovador.
Alessandra Montini
Christiano Faig explicou que, dentro da Microsoft, o Copilot já responde por boa parte da parte “braçal” da programação de Tecnologia da Informação. Além disso, pesquisas internas mostram que essa ferramenta de IA aumenta consideravelmente a produtividade das empresas que a adotam. 70% dos usuários do Copilot disseram que se tornaram mais produtivos e 68% disseram que a adoção melhorou a qualidade de seu trabalho.
É uma época muito excitante para trabalhar com tecnologia. A IA generativa ela não está mudando só a forma como a gente trabalha. Para resumir em uma palavra, é produtividade. Mas, também, junto com a IA generativa, há outra revolução. É a forma como a gente interage com a máquina. São duas revoluções em uma e o potencial disso é imenso.
Christiano Faig
Em termos de regulamentação, houve um consenso: é preciso, sim, impor limites às tecnologias. Alessandra Montini entende que o melhor caminho é restringir em caso de dúvida e, se observarmos que a tecnologia está num bom caminho, ir cedendo.
A diretora do Laboratório de Análise de Dados da Fia Business School alerta que não impor regras pode ter consequências graves. Ela lembrou que estamos em ano eleitoral e que a tecnologia pode e, provavelmente, irá alimentar notícias falsas. Por isso, é fundamental ter uma legislação clara, que impeça o mau uso e capaz de punir aqueles que não a seguem — algo que ainda não temos globalmente. Por isso, estamos atrasados.
Christiano Faig lembrou que as empresas de tecnologia têm grandes responsabilidades para proteger essas tecnologias e impedir que elas caiam nas mãos erradas e virem “armas”. Além disso, ele citou o trabalho da Microsoft de treinamento para quem adquire os produtos de IA da companhia. Assim, é possível proporcionar o uso consciente da tecnologia.
O vice-presidente de Vendas de Soluções & Tecnologia da Microsoft Brasil entende que o usuário final sempre será o elo mais fraco e deve ter uma atenção especial. Isso inclui, por exemplo, não treinar as IAs com os dados fornecidos por eles.
O futuro das IAs
Encerramos o debate com a seguinte pergunta: daqui 10 ou 20 anos, como será o Gramado Summit? Se a gente repetisse essa mesma mesa, o que discutiríamos?
Será que estarei aqui ou será meu avatar? Daqui 10 anos, vamos disputar com nosso avatar. A IA generativa é capaz de fazer um clone, uma pessoa completamente igual a mim. Ela é rápida, é precisa. Então, daqui 10 anos, a dificuldade, a dor, será: você vai ter que concorrer com seus colegas de trabalho, com a inovação e com seus gêmeos digitais. Eu, como professora, vou sentir isso na pele. Será que meu aluno vai querer conversar comigo ou com o avatar? Você vai querer me entrevistar ou entrevistar meu clone digital? Daqui 10 anos, teremos muitas inovações. O metaverso, realidade aumentada e esses clones que se passam por ser humano. Então, eu recomendo, que daqui 10 anos, você faça um convite a mim e à minha inteligência avatar. Teremos um grupo dobrado debatendo e discutindo o futuro.
Alessandra Montini
Na mesma linha, Christiano Faig complementou a análise adicionando a computação quântica às apostas.
É difícil prever tecnologia. Há anos atrás, Bill Gates falou que 64 KB seria mais do que suficiente para todo mundo. Hoje, temos celulares com mais de 1 TB em nosso bolso. O grande salto que vejo é a computação quântica. Isso vai mudar todos os paradigmas que a gente conhece de computação, incluindo a parte de inteligência artificial, que terá muito mais capacidade. Vai levar a IA para um próximo estágio.
Christiano Faig
O evento
A sétima edição do Gramado Summit começou nesta quarta-feira (10) e vai até esta sexta-feira (12). Mais de 15 mil visitantes estão passando pelo evento. Participantes de diferentes estados estão na cidade da Serra Gaúcha para conferir temas ligados à tecnologia e inovação, startups, comunicação e empreendedorismo, em um evento que vai gerar mais de R$ 60 milhões diretos à economia local.
O cálculo não leva em conta o valor gasto em passagens aéreas de moradores de outros estados. Se este número for levado em consideração, temos uma arrecadação de R$ 20 milhões em serviços logísticos.
O Gramado Summit também está promovendo um concurso voltado para startups. A vencedora da competição receberá um aporte de R$ 200 mil da aceleradora Ventiur, com possibilidade de chegar em até R$ 1 milhão por meio de co-investimento.
Alguns dos temas desta edição são mercado digital, ESG, estratégia para empresas, desenvolvimento de carreira e experiência do cliente.