Vai namorar depois de se recuperar da Covid-19? Então, é melhor tomar cuidado. Novas evidências científicas encontradas pela Universidade de São Paulo (USP) indicam que o SARS-CoV-2 – vírus causador da doença – pode sobreviver em espermatozoides de pacientes entre 90 e 110 dias após a recuperação.
O estudo publicado na revista Andrology destaca a necessidade de adoção de uma “quarentena” para os casais que desejam ter filhos.
Vírus da Covid-19 pode infectar espermatozoides por mais de três meses
- Cientistas usaram técnicas avançadas de PCR para entender se e por quanto tempo o vírus da Covid-19 pode infectar espermatozoides.
- O sêmen de 13 homens, com idades entre 21 e 50 anos, foi analisado durante 90 dias após a alta e 110 dias após o diagnóstico.
- O vírus foi detectado em 8 dos 11 pacientes com Covid-19 moderada a grave dentro de 90 dias após a recuperação.
- Dos outros dois pacientes com grau leve da doença, o vírus foi encontrado apenas em um.
- Considerando todos os dados, o vírus sobreviveu no período estudado em 69,2% dos casos.
- Segundo os pesquisadores, os resultados não excluem a possibilidade da presença do SARS-CoV-2 se prolongar por mais tempo ainda nos espermatozoides.
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Recomendações médicas para os futuros pais
Jorge Hallak, professor da FM-USP e coordenador do estudo, recomenda aos casais que desejam ter filhos adiar a concepção natural e o uso de técnicas de fertilização por pelo menos seis meses após uma infecção por Covid-19, mesmo em casos leves.
Ele também explica à Agência FAPESP que as implicações para métodos de reprodução assistida, especialmente a injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), precisam ser urgentemente reconsideradas com a nova revelação sobre a persistência do SARS-CoV-2.
Além de descobrir que o vírus da Covid-19 pode deixar rastros por um longo tempo, os cientistas também observaram uma forma de defesa dos espermatozoides: as ‘armadilhas extracelulares’, também conhecidas como NET (armadilha extracelular neutrofílica, na sigla em inglês).
Nesse mecanismo, os neutrófilos – células de defesa da linha de frente do sistema imunológico – lançam uma espécie de “rede” no ambiente extracelular. Elas servem para isolar, prender, neutralizar e matar invasores como bactérias, fungos e vírus.
Mas há um problema. Embora eficiente, a estratégia também pode causar danos aos tecidos saudáveis do corpo se for hiperativa. Os experimentos com microscopia eletrônica mostraram que os espermatozoides com Covid-19 produzem armadilhas extracelulares baseadas em DNA nuclear para se defender, mas morrem nesse processo.
Essa é a primeira vez que os espermatozoides demonstram ter uma função defensiva. Até agora, conheciam-se quatro principais: transportar o material genético masculino, fertilizar o óvulo, apoiar o desenvolvimento embrionário até a 12ª semana e influenciar o desenvolvimento de doenças crônicas na fase adulta. Com a nova descoberta, os cientistas acrescentaram uma quinta função à lista.