Cinco meses após a saída da direção de futebol do Coritiba, Artur Moraes falou pela primeira vez sobre a passagem pelo Alviverde, com exclusividade ao UmDois Esportes. O diretor assumiu junto com a SAF e saiu após o fim da temporada de 2023, quando o Coxa foi rebaixado.
Nesta quinta-feira (9), o anúncio da venda de 90% da SAF do clube para a Treecorp completa um ano. De lá para cá, o Coxa passou por diversas dificuldades, desde o dramático rebaixamento em 2023 até as mais recentes eliminações na Copa do Brasil e no Campeonato Paranaense.
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Atualmente em Portugal, onde mora com a família, Moraes está fora do futebol, segundo ele, para passar um tempo cuidando da família. No Coritiba, em 2023, o executivo teve a primeira experiência fora dos gramados no futebol brasileiro e afirmou que não pretende voltar a trabalhar com o esporte no país.
Veja a entrevista com Artur Moraes, ex-diretor do Coritiba
Você chegou ao Coritiba junto com a SAF, homologada em maio de 2023, e se tornou o primeiro diretor de futebol da “Era Treecorp”. Como foi essa transição?
A chegada foi muito difícil. Não foi tarefa fácil, o Coritiba estava vivendo uma crise de transição, daquilo que foi feito entre associação e SAF. E havia uma expectativa muito alta do que seria a entrada da SAF, de que ela pudesse resolver problemas históricos que o clube sempre enfrentou em poucos meses. Foi uma expectativa muito alta gerada com o projeto. Foi muito difícil.
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A gente chegou com o Coritiba no último lugar do Brasileirão, dentro de uma Série A em que outras SAF’s entraram com um timing diferente, desde o início da temporada ou no mês de dezembro [de 2022]. Isso trouxe segurança para essas SAFs fazerem grandes investimentos e nós concorremos com clubes em processos muito mais avançados que o nosso. Acredito que isso tenha sido a grande dificuldade durante a temporada toda.
Você participou do dia a dia do clube antes da oficialização da SAF? Desde quando efetivamente a Treecorp começou a estar presente nas decisões do clube?
Não participei. Desculpe, não dá para dizer que eu participei antes da oficialização. Uma que eu não estava no dia a dia do clube. Só posso dizer a partir de quando pisei no clube e comecei a trabalhar. Quem conhece o futebol sabe que é praticamente impossível alguém decidir sem estar no dia a dia do clube. Não mandei o Guto embora em 2022. Inclusive, quando eu estava lá, ele voltou a ser treinador.
A partir de quando eu pisei no clube, aí eu participei, sem dúvida nenhuma. E encontrei grandes dificuldades por ‘N’ coisas que foram criadas até mesmo antes da nossa chegada, relacionadas à expectativa, às fofocas. O que acabou afetando o trabalho.
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O que foram essas dificuldades?
Nós herdamos um histórico de um clube completamente instável. De subidas e descidas de divisão. E com a expectativa do torcedor de que toda essa instabilidade seria acabada em meses. E quem conhece o futebol, sabe que não tem como ter resultados imediatos.
O próprio PSG e Manchester City levaram tempo para conseguir resultados que sempre almejaram. E muito se atrapalhou por isso, acharam que anos de instabilidade do Coritiba acabariam em poucos meses. Isso se contradiz com o futebol brasileiro, é cultural, as pessoas acham que basta botar dinheiro que o resultado vem.
A maior demonstração disso é que já se passaram cinco meses desde que saí e o Coritiba segue com os mesmos problemas. Sai treinador, entra diretor, sai jogador, entra outros. Isso gera uma instabilidade interna muito grande.
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Na coletiva depois do rebaixamento do Coritiba, você não falou sobre os erros que levaram àquela situação. Agora, fora do clube, quais foram os erros do clube em 2023 que levaram à queda?
Quando não se tem o resultado esperado, tudo é erro. Acredito que todas as decisões que foram tomadas foram com a expectativa e com a intenção de procurar o melhor para que se tentasse a manutenção do Coritiba na Série A.
Eu não vou dizer erro, eu acho que o que aconteceu é que, para aquilo que precisávamos fazer no ano, a entrada da SAF ficou tarde. Humanamente e profissionalmente, era praticamente impossível na janela de julho se refazer uma equipe na Série A. Estando em último lugar no campeonato e sem o poder financeiro que as outras equipes tinham.
Era impossível convencer jogadores a abraçar uma ideia de ir para uma equipe que está no último lugar e tem um histórico completo de instabilidade. Nós fizemos aquilo que conseguimos fazer e não foi o suficiente. E quando nós teríamos que fazer contratações pontuais, nós tivemos que refazer uma equipe e convencer jogadores. A gente não tinha condição financeira e estava em último lugar no campeonato, é praticamente impossível convencer jogadores nesse sentido.
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Você falou sobre a dificuldade de trazer jogadores no meio do ano. Na janela de julho, o Coritiba trouxe o trio de estrangeiros, o volante Samaris e os atacantes Jesé Rodríguez e Slimani, que no fim não deram retorno. Por que essas contratações?
Essas contratações foram uma estratégia que a SAF teve naquele momento de trazer jogadores de uma prateleira diferente, mas que tinham que chegar no meio do campeonato. Eles não tiveram tempo de ter a adaptação necessária.
E assim, poderia colocar o Messi no Coritiba que não ia dar resultado. Podia ter contratado o Messi e colocado no ataque do Coritiba, não daria resultado naquele momento. Com tudo aquilo que tinha em volta daquela equipe, dificilmente daria resultado. Esse ano, por exemplo, chegaram outros jogadores que vão bem em outros lugares, e no Coritiba e não conseguem jogar.
O que seria isso que existe “em volta da equipe”?
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Envolve a instabilidade que tem em volta do clube. A exigência do torcedor não condiz com a realidade do dia a dia. O Coritiba SAF vai chegar onde deve chegar com tempo, com calma. Não é de uma hora para outra que vai se ter resultado. Tem uma expectativa gigantesca do Coritiba ser campeão, do clube ganhar e não é de uma hora para outra. E pode ir o nome que for, o resultado não veio ainda.
E como foi a sua saída em dezembro de 2023? Pretende voltar a trabalhar com futebol?
A minha saída foi simplesmente quando eu comecei a ver que o imediatismo está sempre a frente de qualquer coisa e eu não me identifico com isso. Em todo lugar que passei, nunca vi o futebol dar certo pensando em imediatismo. O futebol é a médio e longo prazo. Foi opção dos dois [Treecorp e eu]. O imediatismo afeta o Coritiba desde que a SAF entrou. A troca constante de profissionais só é negativo para a consolidação de qualquer projeto.
Não quero voltar para o futebol brasileiro. Não me identifico com tudo o que envolve o futebol do país hoje. A agressividade, falta de educação e as exigências. O Coritiba foi a minha primeira e única experiência no futebol brasileiro.
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