O cérebro ainda é um mistério para a ciência e entender seu funcionamento é um dos grandes objetivos de pesquisadores ao redor do mundo todo. Uma equipe brasileira desenvolveu um jeito divertido de aprender mais sobre o órgão: com um jogo eletrônico de futebol.
Através de cobranças e defesas de pênaltis, o jogo investiga as consequências de um erro de previsão no tempo de resposta do cérebro.
Cientistas brasileiros vão estudar o cérebro de um jeito divertido
Um dos principais objetivos de cientistas vinculados ao Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão em Neuromatemática (NeuroMat) ligado à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e sediado na Universidade de São Paulo (USP) é descobrir mais sobre o funcionamento do cérebro humano.
Uma das linhas de pesquisa do NeuroMat, chamada “Cérebro Estatístico”, tem realizado experimentos com base em modelos matemáticos capazes de representar a interação entre os bilhões de neurônios do cérebro e prever seu comportamento.
Um estudo publicado em abril deste ano na revista Scientific Reports focou em como o órgão responde ao erro.
Para isso, eles criaram um jogo eletrônico capaz de interpretar a resposta do cérebro diante de uma decisão errada, levando em conta como uma pessoa processa o erro, o tempo que leva para isso e os estímulos seguintes.
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Para compreender o cérebro, é preciso defender (e errar) pênaltis
O jogo foi batizado de “Jogo do Goleiro” e funciona assim:
- O jogador é um goleiro em uma disputa de pênaltis. Ou seja, ele precisa prever onde o cobrador chutará e se mover para defender a bola;
- A direção do chute varia de acordo com uma sequência estatística chamada “cadeia estocástica com memória de comprimento variável”, na qual a direção do chute seguinte é influenciada pelos anteriores e por experimentos aleatórios, como num dado;
- O jogador, então, precisa interpretar a sequência de chutes para defender o maior número de pênaltis;
Os pesquisadores descobriram que o tempo de resposta dos participantes durante o jogo eletrônico variava dependendo do sucesso ou do fracasso em defender o pênalti anterior.
Quando os erros são frequentes, o cérebro responde mais lentamente após as escolhas corretas. Já quando os erros são raros, o tempo de resposta é mais lento após as escolhas incorretas.
O que isso diz sobre nosso cérebro
O que os pesquisadores descobriram é que o tempo de resposta do cérebro não depende só das escolhas dos jogadores, mas também da previsibilidade da sequência de chutes.
Segundo Paulo Passos, um dos envolvidos no estudo, à Agência FAPESP, os resultados dão insights sobre os modelos estatísticos que operam dentro do cérebro a partir de aspectos simples de comportamento, como o tempo de resposta, nesse caso.
À medida que avançamos nessa investigação, descobrimos os blocos de construção dos modelos e como eles se interconectam. Isso abre caminho para uma maior compreensão da aprendizagem e suas disfunções.
Paulo Passos