A expansão da Inteligência Artificial no mercado de trabalho suscita há um bom tempo a discussão sobre se a máquina vai um dia tirar os nossos empregos. O assunto já virou tema de estudos, pesquisas, enquetes e até mesmo de comentários de grandes personalidades do setor, como o bilionário Elon Musk.
Todo o debate, porém, sempre ficou no campo das probabilidades. Algo como um futuro que ainda não tinha chegado. Até agora.
Na China, milhares de pessoas estão reclamando, em algumas cidades, do serviço de robotáxi. Alegam que os carros autônomos estariam “roubando tigelas de arroz” de motoristas, que começaram a perder espaço.
Na última terça-feira, o governo chinês emitiu 16 mil licenças de teste para veículos autônomos e abriu 32 mil quilômetros de estradas públicas para a experiência.
Em junho, Pequim também deu sinal verde para nove montadoras nacionais, incluindo a BYD e a Nio, para começarem a testar essa tecnologia.
A situação já está mais avançada em alguns municípios. Wuhan é um deles.
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1% que incomoda muita gente
- A plataforma de transporte autônomo Apollo Go tem cerca de 400 robotáxis operando em Wuhan.
- A Apollo Go pertence à gigante Baidu, uma multinacional chinesa de tecnologia especializada em serviços e produtos relacionados à Internet e à Inteligência Artificial.
- De acordo com o CEO da companhia, Robin Li, esses 400 carros representam apenas 1% do mercado de transporte da cidade.
- Ele planeja aumentar sua frota para mil veículos até o fim do ano.
- Mesmo representando apenas 1%, o serviço se tornou tão popular que os taxistas do município entraram com uma reclamação oficial junto às autoridades.
- Pedem que os governantes limitem o uso do serviço – ou que igualem os preços.
- E a diferença de valores é mesmo gritante.
- Uma viagem de robotáxi de 16 minutos custa aproximadamente 10,36 yuans (algo em torno de US$ 1,46 ou R$ 9).
- Pelos aplicativos de transporte tradicionais, uma corrida de mesma duração custa o dobro na China: 20 yuans.
Perde de um lado, ganha de outro
Diante dessa realidade, o canal americano CNBC ouviu alguns especialistas (em transporte e em tecnologia), que concordaram em dizer que, no caso da China e dos motoristas, a mudança parece inevitável. Ela, no entanto, não será instantânea.
“Você não perderá todos os empregos de uma vez. Será uma fase de transição lenta, área por área, região por região”, disse Mohit Sharma, analista de pesquisa da Counterpoint Research.
Sharma acrescentou que os governos poderiam colaborar com empresas de robotáxis para transferir motoristas para outros empregos. Enquanto isso, os sistemas educacionais devem treinar novas gerações para os empregos do futuro.
E que empregos seriam esses? De acordo com Jeff Farrah, CEO da Autonomous Vehicle Industry Association, são vagas como técnicos de serviço, operadores de assistência remota, especialistas em mapeamento, despachantes, entre outros.
Os especialistas disseram que sempre haverá algum deslocamento de empregos quando uma nova tecnologia entra no mercado, mas ela também pode “criar mais empregos e novos empregos” a partir das suas necessidades operacionais.
É claro que estamos falando de experiências em países mais ricos e desenvolvidos que o nosso. Mas isso deve servir de lição para o Brasil – sobretudo a parte de preparar as próximas gerações para os chamados empregos do futuro.
Porque os robotáxis devem demorar bastante para chegar por aqui. Mas um dia eles vão chegar. O futuro sempre chega.
As informações são do CNBC.