Seja no 4-2-4 ou no 5-3-2, atravs de jogo de posio ou jogo funcional, respeitando as diversas formas de ver o futebol. Acreditando sempre na beleza do jogo, e nas diversas interpretaes do mesmo. Falo de ttica tentando fugir do professoral, mas sempre buscando ir alm. Como em uma conversa de bar. Sem espao para a saideira.
Os objetivistas sempre se opuseram aos relativistas. Mesmo antes da existência de tais conceitos. Provavelmente até no tempo das cavernas, entre uma caçada e outra, os humanos já discutiam sobre a verdade absoluta (ou não) das coisas. Não se chegou a um consenso. Tanto que as correntes filosóficas se ramificaram.
A matemática é clara: 1 + 1 = 2. No futebol, só três resultados são possíveis: vitória de um time, vitória do outro, ou empate. Logo, quem ganha, é bom. Quem perde, ruim. Certo? Apenas para os objetivistas. De acordo com o objetivismo, existe uma verdade absoluta, uma realidade objetiva independente da consciência humana. O bom é o bom e o mau é o mau. No futebol, o bom é quem ganha. Quem perde, é o mau.
No relativismo, em contraponto, não existe uma verdade absoluta e objetiva. As crenças e valores são vistos através de uma lupa que leva em consideração contextos culturais, históricos, sociais ou individuais. Um time perdeu, ok. Mas vem cá, e como foi, de fato, o jogo? Quantos desfalques a equipe tinha? Qual era o rival? Qual o contexto daquele duelo?
Nessa semana, me chamaram a atenção duas entrevistas coletivas. Elas pareciam se contrapor. Mas será que se contrapõem, de fato? Bem, todo mundo viu o Manchester City ser eliminado nos pênaltis para o Real Madrid na Champions. O jornalista brasileiro Fred Caldeira perguntou a Pep Guardiola o que ele, Pep, sentia pela eliminação. Pep foi além, e pareceu seguir a corrente objetivista.
“Nesse negócio, quem vence, está certo. Quem não vence, está errado. Na temporada passada, vencemos e estivemos certos. Nessa temporada, eles (Real) venceram, e estão corretos. Podemos pensar: ‘Ah, o que poderia acontecer se isso aqui, aquilo ali’. Não conta! Não conta nesse nível. Você precisa vencer e nós fizemos de tudo. Nós sabemos, eles sabem, o mundo inteiro sabe. Mas não foi o suficiente. E quando não é o suficiente, é viver a noite ruim, dar os parabéns para eles como fizemos milhões de vezes e, agora, amanhã tem a FA Cup”, disse Pep.
Fred insistiu (e bem). Pep continuou.
“Não é a primeira vez que me acontece na Champions League. Chutamos 35 vezes no gol contra o Chelsea de Roberto Di Matteo e perdemos. Jogamos uma semifinal incrível pelo Bayern contra o Atlético de Madrid, primeiro tempo foi inacreditável. Tivemos não sei quantos chutes. E perdemos. Fomos eliminados nos minutos finais, e agora (nos pênaltis). É futebol! Não é sobre esse adversário, é futebol! Acontece. Mas se acontecer quando você joga fiel a quem você é, refletindo na performance quem você é, o que mais fazer?”, completou Pep.
O fim afasta um pouco Pep do objetivismo. O treinador sempre defendeu, ao longo de sua carreira, que o principal objetivo é o time jogar da forma que sabe. É mostrar a sua personalidade. É o jogador tentar ser ele mesmo. Como tanto fez o Flu, de Fernando Diniz. Inclusive contra o City, de Pep. E perdeu. Aliás, foi 4 a 0. Guardiola é bom e Diniz é ruim, então?
“Quem que é bom? Que treinador é bom? Jorge Jesus, que ganhou um monte de coisa aqui. Quando voltou ao Benfica, teve resultados ruins e foi mandado embora. Agora está bem na Arábia Saudita. Mas aqui, o cara precisa ganhar para mostrar que é bom. A gente não avalia conteúdo, se o treinador é bom ou não. Existe um automatismo de quem ganha, é bom, e quem perde, é ruim”, refletiu Diniz dias depois da entrevista de Pep.
Diniz havia ganhado do Vasco, de Ramón Díaz. Criticou a demissão de Thiago Carpini no São Paulo, elogiou técnicos brasileiros e criticou o objetivismo.
“É uma análise de resultado. A moda é treinador estrangeiro. Vai ganhar um, mais três ou quatro vão para a Libertadores, os outros estrangeiros vão ser ruins também e vão ser mandados embora (…). Quando vem treinador estrangeiro, vem comissão técnica, daqui a pouco vem gerente, daqui a pouco vem assessor de imprensa, jornalista, e vira o país colônia, extrativista total”, completou Diniz.
O próprio Diniz, por quantos anos não foi chamado de “burro” até ganhar seus primeiros títulos na carreira? Até ser campeão da América? E agora, ele é bom? E quando perder de novo? Quantos e quantos técnicos passaram pelo mesmo processo? Uma reflexão: quantos técnicos do seu time você chamou de burro, falou que não presta, mas depois acabou “prestando” para um rival?
No futebol sem tempo para respirar de quarta a domingo, é difícil parar para refletir. O torcedor quer ganhar quarta, e quer ganhar domingo. Independente do adversário. Está no direito dele. Mas formadores de opinião e dirigentes se limitarem a isso talvez não seja o mais edificador para o nosso futebol. Beirar ou superar os 30 técnicos demitidos em um campeonato talvez não signifique evolução.