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Parceria com a USP promove estudo sobre habilidade motora infantil pós-pandemia em Portugal – Jornal da USP

Parceria com a USP promove estudo sobre habilidade motora infantil pós-pandemia em Portugal – Jornal da USP

O projeto “React: de volta à ação”, que tem parceria da Escola de Educação Física e Esporte da USP, busca estudar as competências físicas e motoras após a pandemia

Trabalho analisa se o baixo estímulo para se exercitar durante a pandemia pode ter afetado de forma significativa o desenvolvimento das crianças – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

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Brincar, correr, pular, socializar: essas atividades rotineiras têm papel fundamental para o desenvolvimento infantil, seja no aspecto motor, físico, social e cognitivo das crianças. No dia a dia das escolas, o movimento é um aspecto que faz parte do aprendizado, especialmente na hora do intervalo e nas aulas de educação física. Porém, durante o isolamento social necessário diante do cenário pandêmico da covid-19, as rotinas das crianças alteraram-se drasticamente, e as escolas tiveram que adaptar suas atividades para o formato remoto. 

O esforço de transmitir conhecimento por meio das telas representou um avanço frente às adversidades, mas, por outro lado, a falta do contato presencial e o baixo estímulo para se exercitar podem ter afetado de forma significativa o desenvolvimento das crianças. O projeto React: de volta à ação, que contou com a participação dos docentes Go Tani e Fernando Garbeloto, da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, buscou avaliar os efeitos do período pandêmico nas competências físicas e motoras das crianças da cidade portuguesa de Matosinhos. 

Projeto longitudinal 

O projeto foi liderado pelo professor José Maia, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, com financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia de Portugal e realizado em parceria com a Câmara Municipal de Matosinhos. Além de pesquisadores da EEFE-USP e Fadeup, o React também reúne pesquisadores da Universidade Lusófona (Portugal), da Universidade de Chicago, Universidade de Syracuse e da Universidade de Louisiana, todas nos Estados Unidos. 

As primeiras coletas foram realizadas entre 2021 e 2022, com a participação de 1.500 crianças matosinhenses de 32 escolas, com idades entre 6 e 10 anos. Por meio de testes físicos e questionários, foram averiguados dados sobre crescimento físico, composição corporal, maturação biológica, atividade física diária, habilidades motoras fundamentais, aptidão física e comportamentos de saúde. 

Uso de aplicativo 

Para os testes relacionados ao desenvolvimento motor, foi utilizado o aplicativo Meu Educativo, desenvolvido pelo professor Fernando Garbeloto em seu doutorado na EEFE, sob orientação do professor Go Tani. Por meio do aplicativo, os professores de educação física das escolas avaliaram a proficiência das crianças em cinco habilidades: arremessar, chutar, driblar, receber/agarrar e rolar a bola. 

Por meio do app, o desempenho da criança em cada habilidade é classificado em três níveis: Alpinista Perito (o mais proficiente); Alpinista Aventureiro (nível intermediário) e Alpinista Explorador (nível imaturo). Os dados coletados servirão de subsídio para traçar um panorama descritivo das crianças da cidade e detectar possíveis fatores de risco para a saúde das crianças, como o possível risco de atraso no desenvolvimento motor, sobrepeso ou obesidade. 

Aplicativo Meu Educativo é usado para testes sobre desenvolvimento motor; feedback à comunidade é essencial para a melhora das políticas públicas – Fotos: Paula Bassi

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Dados abrangentes

A coleta, porém, não se restringiu às crianças. Para contextualizar os dados de forma mais ampla, os pesquisadores também levantaram informações sobre o ambiente no qual elas estavam inseridas. Desta forma, foram registradas as políticas e estratégias das escolas relacionadas à atividade física. Já as famílias forneceram informações referentes a características sociodemográficas, histórico de saúde, comportamentos alimentares, prática desportiva e ambiente físico.

Em todas as habilidades motoras avaliadas, as crianças matosinhenses apresentaram resultados superiores aos de outras crianças portuguesas e semelhantes aos de crianças estrangeiras avaliadas antes do período pandêmico. Por outro lado, em termos de obesidade e sobrepeso, os resultados não são tão animadores. De acordo com os dados coletados pelo projeto em 2022, 20% das meninas e 22% dos meninos matosinhenses são obesos, praticamente o dobro das crianças portuguesas em 2019 – 11% nas meninas e 13% nos meninos.

Feedback e políticas públicas

Além das publicações acadêmicas, os resultados também foram compartilhados com a comunidade envolvida. Aos responsáveis pelas crianças, foram enviados relatórios individuais sobre seus filhos. Os professores de educação física nas escolas também receberam feedback sobre as avaliações. Essa interação com a sociedade foi de tal forma bem recebida pela cidade que a Câmara Municipal de Matosinhos manifestou interesse em seguir o projeto até o final do ano letivo de 2024. Desta forma, foi solicitado aos pesquisadores o auxílio necessário para que houvesse melhora nos pontos críticos do desenvolvimento das crianças. 

De acordo com a pesquisadora Sara Pereira (Fadeup), o estudo já desencadeia mudanças na política pública educativa desta autarquia, o que está alinhado ao objetivo do projeto: “Nosso objetivo é tentar modificar ou compreender quais são os fatores na sociedade em que nós podemos intervir”, comenta. Algumas das ações sugeridas já foram adotadas, como o aumento de carga horária das aulas de educação física.

Equipe do Projeto Despertar, nas Ilhas dos Açores – Foto: Divulgação/EEFE


Desdobramentos do projeto

Além do React, o grupo coordena outros projetos semelhantes em Portugal. No Projeto Despertar, foi feito o diagnóstico físico e motor de mais de 5 mil crianças e adolescentes das Ilhas dos Açores (Região Autônoma de Portugal). Já o Projeto RUSH, financiado pela Fundação La Caixa, compara as crianças matosinhenses com as crianças açorianas, incluindo uma nova variável de cunho cognitivo. Além disso, há planos para expandir a pesquisa a outras cidades portuguesas. 

Para Garbeloto, a parceria entre Fadeup e EEFE foi essencial para o sucesso do projeto: “A ideia é fortalecermos cada vez mais essa cooperação. A todo momento, estamos trabalhando junto a pesquisadores de renome, e o reflexo disso está na qualidade e impacto das publicações”. Uma dessas publicações é o livro Educação Física no 1º CEB. Um manual para professores, um guia para ser utilizado pelos professores de educação física escolar. Embora o livro seja voltado à comunidade de Matosinhos, a obra pode ser consultada por todos os interessados em educação física escolar, com acesso gratuito via internet. 

Os principais resultados até o momento foram publicados em edição especial da Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, acessível neste link.  

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*Texto Paula Bassi, da assessoria de imprensa da EEFE