O WikiLeaks é uma organização sem fins lucrativos fundada em 2006 pelo australiano Julian Assange. Seu objetivo é divulgar documentos confidenciais, segredos de Estado e informações sensíveis ao público, promovendo a transparência governamental e corporativa.
Desde a sua criação, o WikiLeaks ganhou notoriedade global por uma série de vazamentos impactantes, muitos dos quais tiveram repercussões significativas em diversos setores. A seguir, destacamos alguns dos principais vazamentos realizados pela organização.
Os principais vazamentos feitos pelo WikiLeaks
Os Documentos da Guerra do Afeganistão (2010)
Em julho de 2010, o WikiLeaks publicou mais de 75 mil documentos secretos sobre a guerra no Afeganistão, denominados “Afghan War Diary”. Esses documentos, originários do Departamento de Defesa dos EUA, revelaram informações detalhadas sobre operações militares, incluindo ataques aéreos, mortes de civis, e atividades dos insurgentes. O vazamento expôs a realidade brutal do conflito e a discrepância entre o que era comunicado oficialmente e o que realmente acontecia no campo de batalha.
Este vazamento feito pelo WikiLeaks trouxe à tona a morte de civis em incidentes não divulgados anteriormente e mostrou a extensão do envolvimento do Talibã e da Al-Qaeda no conflito. Além disso, revelou a complexidade das operações militares e os desafios enfrentados pelas forças da coalizão liderada pelos Estados Unidos.
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Os Documentos da Guerra do Iraque (2010)
Em outubro de 2010, o WikiLeaks realizou o vazamento de aproximadamente 400 mil documentos classificados relacionados à guerra do Iraque. Conhecidos como “Iraq War Logs”, esses documentos ofereceram uma visão detalhada sobre a ocupação do país entre 2004 e 2009. Entre as revelações, estavam relatos de abusos de prisioneiros pelas forças iraquianas sob a supervisão das tropas americanas e o número significativamente maior de mortes de civis do que o reportado oficialmente.
O vazamento destacou a gravidade dos abusos de direitos humanos e as práticas controversas das forças militares no Iraque. Revelou também a ocorrência de tortura e maus-tratos a prisioneiros, levantando questões sobre a responsabilidade e a supervisão das forças de coalizão.
Cablegate (2010)
O “Cablegate” foi um dos vazamentos mais volumosos e impactantes realizados pelo WikiLeaks. Em novembro de 2010, a organização começou a divulgar mais de 250 mil telegramas diplomáticos do Departamento de Estado dos EUA. Esses documentos, que abrangiam um período de 1966 a 2010, continham comunicações entre embaixadas americanas e Washington.
As revelações incluíam avaliações francas de líderes mundiais, estratégias diplomáticas secretas, e informações sobre espionagem dos EUA contra a ONU. Este vazamento colocou em risco relações diplomáticas e causou constrangimentos a vários governos. Por exemplo, os telegramas expuseram a visão dos EUA sobre a corrupção no governo afegão e revelaram pedidos de líderes árabes para que os EUA atacassem o Irã para interromper seu programa nuclear.
Vazamento sobre a Prisão de Guantánamo (2011)
Em abril de 2011, o WikiLeaks publicou cerca de 779 arquivos de detenções relacionados à prisão de Guantánamo, localizada em Cuba. Esses documentos, conhecidos como “Guantánamo Files”, forneceram informações detalhadas sobre os detentos, incluindo avaliações de risco e o tratamento a que eram submetidos.
As revelações mostraram que muitos dos prisioneiros eram considerados de baixo risco ou completamente inocentes, mas ainda assim estavam sendo mantidos presos. Além disso, os arquivos evidenciaram as práticas de interrogatório controversas e os métodos de tortura utilizados na prisão, gerando um debate acirrado sobre os direitos humanos e as políticas de detenção dos EUA.
E-mails do Comitê Nacional Democrata (DNC) (2016)
Em 2016, durante a campanha presidencial dos EUA, o WikiLeaks realizou o vazamento de uma série de e-mails hackeados do Comitê Nacional Democrata (DNC). Esses e-mails expuseram comunicações internas que sugeriam um favoritismo do DNC pela candidatura de Hillary Clinton em detrimento de Bernie Sanders durante as primárias democratas.
O vazamento gerou grande controvérsia e levou à renúncia de vários funcionários do DNC. Muitos acreditam que essa divulgação teve um impacto significativo na eleição presidencial de 2016, contribuindo para a percepção pública de manipulação política dentro do partido democrata. Além disso, as revelações alimentaram teorias de conspiração e levantaram questões sobre a segurança cibernética na política americana.
E-mails de John Podesta (2016)
Ainda no contexto das eleições de 2016, o WikiLeaks também divulgou e-mails do gerente de campanha de Hillary Clinton, John Podesta. Os “Podesta Emails” incluíam correspondências privadas e documentos que revelavam estratégias de campanha, discursos pagos para bancos e Wall Street, e comunicações internas controversas.
As divulgações deram munição aos opositores de Clinton, evidenciando uma proximidade desconfortável entre a candidata e interesses corporativos. Além disso, os e-mails reforçaram a narrativa de falta de transparência e integridade dentro da campanha de Clinton, alimentando a desconfiança entre os eleitores.
Espionagem da CIA (Vault 7) (2017)
Em março de 2017, o WikiLeaks deu inicio ao vazamento de uma série de documentos confidenciais da CIA, conhecidos como “Vault 7”. Esses documentos detalhavam as ferramentas de hacking e as técnicas de espionagem utilizadas pela agência. Entre as revelações estavam métodos para invadir smartphones, TVs inteligentes e outros dispositivos conectados à internet.
O vazamento gerou preocupações sobre a invasão de privacidade e a vulnerabilidade das tecnologias modernas a ataques cibernéticos. Mostrou como a CIA era capaz de transformar dispositivos comuns em ferramentas de espionagem, exacerbando o debate sobre a segurança digital e a ética das operações de inteligência.
Trans-Pacific Partnership (TPP) (2013-2016)
Entre 2013 e 2016, o WikiLeaks publicou vários capítulos e documentos relacionados ao Acordo de Parceria Transpacífico (TPP), um acordo comercial multilateral envolvendo países da região Ásia-Pacífico e as Américas. As divulgações mostraram o impacto potencial do TPP em áreas como propriedade intelectual, medicamentos e internet.
Os documentos revelaram que o acordo poderia fortalecer a proteção de patentes, dificultando o acesso a medicamentos genéricos e aumentando os custos de saúde. Além disso, destacaram cláusulas que poderiam restringir a liberdade na internet e expandir os direitos de corporações multinacionais em detrimento de governos locais.
E-mails da Sony Pictures (2014)
Embora não exclusivamente uma iniciativa do WikiLeaks, a publicação dos e-mails da Sony Pictures em 2014 tornou-se um evento significativo na história dos vazamentos. Esses e-mails foram obtidos após um ataque cibernético à Sony Pictures Entertainment, e o WikiLeaks os disponibilizou em seu site em 2015.
Os e-mails expuseram negociações internas, estratégias de marketing, salários de executivos, e discussões privadas sobre filmes e atores. As revelações causaram constrangimentos à Sony, destacando questões de segurança cibernética e a vulnerabilidade das empresas de entretenimento a ataques.
Os Documentos do TTIP (2016)
Em 2016, o WikiLeaks publicou documentos relacionados à Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (TTIP), um acordo comercial entre os Estados Unidos e a União Europeia. Os vazamentos mostraram as negociações secretas e as concessões feitas por ambos os lados.
As revelações destacaram preocupações sobre a influência das corporações multinacionais nas negociações e o potencial impacto negativo em regulações ambientais, de saúde e de segurança alimentar. Os documentos alimentaram protestos e debates públicos na Europa, dificultando a conclusão do acordo.
Impactos e controvérsias
Os vazamentos do WikiLeaks têm sido uma fonte contínua de controvérsia. Por um lado, os defensores da organização argumentam que a divulgação dessas informações promove a transparência e a responsabilidade governamental, expondo abusos de poder e violações dos direitos humanos. Por outro lado, os críticos afirmam que os vazamentos colocam em risco a segurança nacional, comprometem operações diplomáticas e podem colocar vidas em perigo.
Julian Assange, a figura central do WikiLeaks, também é um personagem controverso. Em 2012, ele se refugiou na embaixada do Equador em Londres para evitar extradição para a Suécia, onde enfrentava acusações de crimes sexuais (posteriormente arquivadas).
Em 2019, após perder o asilo, Assange foi preso pelas autoridades britânicas e enfrentou um processo de extradição para os Estados Unidos, acusado de conspiração para cometer invasão de computadores e outros crimes relacionados aos vazamentos do WikiLeaks, do qual recentemente se declarou culpado, saindo da prisão britânica e rumando para os Estados Unidos.