O dono da SAF do Botafogo, John Textor, afirmou nesta segunda-feira que a manipulação de resultados é uma “realidade” no país e um “problema global”. Em depoimento à CPI das Apostas Esportivas do Senado, ele voltou a fazer acusações de que houve um esquema de corrupção envolvendo jogadores e árbitros para interferir em partidas do campeonato Brasileiro de 2022 e 2023. Ele foi convidado para ser ouvido na condição de testemunha. Após a oitiva, ele se reuniu em uma sessão fechada com os parlamentares, que saíram do encontro afirmando que vão investigar os indícios apontados pelo executivo.
— O que nós descobrimos aqui não é nada diferente do restante do mundo. Na Bélgica, na França, em toda a Europa, o acerto ou a manipulação de resultados é uma realidade. (…) O que ocorreu no ano passado pode ter ocorrido em outros anos, e nós temos uma grande oportunidade com o que a tecnologia nos proporciona hoje —- afirmou o dirigente, reforçando que este problema ocorre “em toda a Europa”.
Textor também é sócio dos times Olympique Lyonnais, da França, RWD Molenbeek, da Bélgica, FC Florida, dos Estados Unidos, e Crystal Palace, da Inglaterra.
As supostas provas, prometidas pelo dirigente, no entanto, não foram divulgadas ao público. Após o depoimento, os integrantes da CPI fizeram uma reunião secreta com Textor para que ele apontasse as evidências que diz ter sobre as fraudes no futebol brasileiro.
— A tecnologia em que nos baseamos para provar a manipulação de resultados, eu pretendo mostrar aqui numa sessão secreta, quando farei a divulgação de resultado, de nomes, de pessoas, de árbitros — disse o empresário.
Os senadores saíram da reunião sigilosa, dizendo que o empresário entregou um relatório de 180 páginas com “indícios com conteúdo” que merecem o aprofundamento das investigações.
— Nós tivemos acesso a indícios, com conteúdo muito importante. Não posso dizer os times (envolvidos), só que são times grandes, não são da série B e C — afirmou o senador Jorge Kajuru (PSB-GO), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).
Ele ainda prometeu que a comissão não terminará em “com a palavra pizza” e confirmou que os dirigentes do Palmeiras e São Paulo comparecerão nas próximas sessões.
— Há elementos técnicos. Como é que a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), que é a maior responsável pela integridade do futebol do nosso país, não foi a fundo. Como é que o STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) não foi a fundo nisso. Há razões para investigar, o que o John Textor pode não ser provas concretas, que já saiu com pedido de prisão de quem manipula, mas são fundamentais que sejam investigadas — questionou o líder do PL no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ), que foi advogado do ramo esportivo, após ler o relatório do dirigente do Botafogo.
Durante a audiência, Textor explicou que as suas acusações se baseiam em relatórios de inteligência artificial produzidos pela empresa Good Game!, que foca na análise do comportamento dos jogadores e erros de arbitragem. Com uma tecnologia desenvolvida pelo ex-atleta Pierre Sallet, o software contratado pelo Botafogo é capaz, segundo a empresa, de diferenciar falhas normais de propositais através da análise de movimentos, giro do corpo, proximidade da bola, entre outros fatores.
Portinho questionou, no entanto, se esse tipo de análise não era “perigosa” e subjetiva para ser visto como uma evidência isolada. — O comportamento é interessante, mas só o comportamento, por si só, ele nunca vai servir de prova sozinho — disse ele.
Segundo Textor, a empresa não apresenta os motivos da manipulação, mas como ela ocorre. — A manipulação de resultados é como um truque de mágica de David Copperfield. O atacante chuta essa bola e todo mundo está olhando para ele e para o árbitro, mas não é aí onde ocorre o truque (…) É uma atitude diferente, um desânimo no momento em que você deveria estar entregando toda a energia. O que vemos é que na manipulação dos resultados isso ocorre em cada milissegundo — afirmou.
O cartola vem reclamando que o Botafogo foi “roubado” no Campeonato Brasileiro desde novembro de 2023, quando o time carioca perdeu de virada para o Palmeiras por 4 a 3. O time paulista acabou ganhando o título do torneio no último ano, após o Botafogo ter passado 31 rodadas na liderança.
O senador Hiran Gonçalves (PP-RR), que se declarou torcedor do Botafogo há mais de 40 anos, pediu a palavra para dizer que estava na arquibancada na partida contra o Palmeiras e também considerou “anormal” o comportamento da arbitragem.
— Naquele jogo nós perdemos o campeonato, infelizmente — comentou ele, que no fim da sessão ainda pediu ao cartola a contratação de dois zagueiros para o Botafogo.
Em abril, novamente sem apresentar provas, o dono do Botafogo publicou em seu site uma denúncia em que mencionou dois confrontos do Palmeiras pelo Brasileiro: um com o Fortaleza, em 2022, e outro com o São Paulo, em 2023. Em ambos, o adversário teria entregado o resultado para o alviverde, conforme a versão dele.
Textor voltou a falar na CPI sobre essa partida em que o Palmeiras ganhou de 5 a 0 do São Paulo. Segundo as suas alegações, cinco jogadores do tricolor paulista estariam envolvidos na suposta manipulação do resultado que favoreceu o rival.
— De fato, o relatório sobre o São Paulo e o Palmeiras mostra desvios de outros jogadores que não se transformarão em acusações. Foram jogadores que tiveram deficiências, cinco foram identificados que são possíveis de estar envolvidos nessa manipulação. Então, é possível ter um relatório sobre essas manipulações e o jogador individual tem o direito de se defender. Não quero ter essa conversa pública — acrescentou.