Um fazendeiro pegou gripe aviária (H5N1) de uma vaca nos EUA. É o que confirma um estudo publicado no The New England Journal of Medicine. Este é o primeiro registro feito de transmissão do vírus entre uma vaca e um ser humano.
A boa notícia é que o caso foi detectado rapidamente, e o vírus se manifestou como uma inflamação no olho, e não como qualquer tipo de infecção do trato respiratório superior. Portanto, as chances de ter sido transmitido a qualquer outra pessoa, se a transmissão entre humanos ainda for possível, são pequenas.
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Além disso, o caso foi capaz de fornecer alguns dados sólidos sobre como a gripe aviária se apresenta nos seres humanos, o que deverá ajudar os especialistas a avaliar o tamanho da ameaça à saúde pública – e a identificar mais casos se e quando eles aparecem.
O que se sabe sobre a transmissão da gripe aviária de vaca para humano
“É algo enorme que o vírus tenha passado das aves para os mamíferos, neste caso para as vacas leiteiras, e depois para os humanos”, diz o toxicologista ambiental Steve Presley, diretor do Laboratório de Pesquisa de Ameaças Biológicas da Texas Tech University.
Presley é um dos autores do estudo. A pesquisa confirmou a transmissão do vírus H5N1 da vaca ao humano por meio de testes em condições laboratoriais altamente biosseguras e partilhado com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA.
O fazendeiro que contraiu o vírus relatou vermelhidão e desconforto no olho direito no final de março de 2024. Embora ele não tivessem estado em contato com pássaros ou aves, trabalhava com vacas – e algumas apresentavam sinais da doença.
Registros do contágio de gripe aviária das aves para o gado só passaram a surgir recentemente. Os EUA agora veem como necessário um monitoramento mais rigoroso das vacas leiteiras e daqueles que entram em contato com elas.
Este é apenas o segundo caso da gripe aviária em um humano nos EUA, e a transmissão entre humanos ainda não foi observada em nenhum outro lugar. Um problema é que, uma vez alojado em um humano, o patógeno tem mais chances de se adaptar e sofrer mutação para ser mais infeccioso para a nossa espécie – o que parece ter acontecido neste caso.
“O vírus identificado na amostra do trabalhador tinha uma alteração (PB2 E627K) que foi associada à adaptação viral a hospedeiros mamíferos e detectada anteriormente em humanos e outros mamíferos infectados com vírus HPAI A (H5N1) e outros subtipos do vírus da gripe aviária A”, diz o artigo.
Combate de especialistas contra a gripe aviária vem se intensificando
- O atual surto de gripe aviária começou em 2020 e, embora a infecção humana seja rara, existe uma elevada taxa de mortalidade;
- Autoridades e cientistas entendem que é crucial saber como o vírus é transmitido entre os animais e onde isso está acontecendo;
- Já se sabe da presença do vírus em vários mamíferos, como raposas, focas, leões marinhos, ursos e gatos domésticos;
- Com os riscos tão elevados e a pandemia ainda fresca na mente das pessoas, os cientistas têm redobrado esforços para tentar minimizar a propagação contínua da gripe.
“Este estudo vai servir como base, acredito, para muitas pesquisas no futuro sobre como o vírus H5N1 está evoluindo”, diz Presley.