Geralmente, nos vemos acostumados a relacionar a hábitos saudáveis à prática de dormir e acordar cedo. Mas a ciência fez descobertas que podem mostrar que nossa noção sobre o assunto não é inquestionável.
Cientistas do Imperial College London (ICL) descobriram que as pessoas “noturnas” têm uma função cerebral significativamente maior do que aqueles que acordam cedo. Então, se você acredita que o dia só começa de verdade às 17h, essa descoberta pode ser um grande argumento contra quem quiser te dar um sermão de como acordar cedo é mais saudável.
“Nosso estudo descobriu que adultos que são naturalmente mais ativos à noite (o que chamamos de vespertinidade) tendem a ter melhor desempenho em testes cognitivos do que aqueles que são matutinos”, disse o principal autor do estudo, Raha West, do Departamento de Cirurgia e Câncer da ICL.
“Em vez de serem apenas preferências pessoais, estes cronótipos podem impactar a nossa capacidade cognitiva”, completa West.
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Estudos anteriores associaram a “vespertinidade” a resultados prejudiciais para a saúde, incluindo colocá-los em maior risco de diabetes tipo 2 e doenças cardíacas, e até mesmo um riscos 10% maiores de morte precoce em comparação com “pessoas matinais”. Pessoas noturnas também costumam estar associadas a uma taxa mais elevada de distúrbios psicológicos e neurológicos.
Estudos genéticos indicaram que as preferências de sono matinal e noturno estão intimamente ligadas à nossa biologia, com variantes associadas a uma mudança nos ritmos circadianos que desempenham um grande papel no momento em que sentimos que precisamos dormir.
É claro que este é ainda um trabalho em andamento, mas já se sabe que o comportamento de uma pessoa noturna é complexo e não é governado apenas por escolha pessoal ou força de vontade.
Descobertas do estudo sobre pessoas noturnas
- No mais novo estudo, os investigadores analisaram mais de 26.000 participantes do UK Biobank e os seus hábitos de sono – incluindo duração e qualidade – e o seu desempenho em testes cognitivos.
- Esses participantes também se autodenominaram pessoas matutinas ou noturnas.
- Após ajustar fatores de saúde e estilo de vida, como doenças crônicas, tabagismo e consumo de álcool, os pesquisadores descobriram que as pessoas noturnas tiveram notas 13,5% mais altas do que os matutinos em um grupo, e 7,5% mais altas em outro grupo.
- Juntamente, as pessoas da manhã tiveram pontuações consistentemente mais baixas nos testes em todos os níveis, com até mesmo os tipos “intermédios” – aqueles que não se consideravam nem matutinos, nem noturnos – com resultados 10,6% e 6,3% melhores do que os ‘madrugadores’ que despertam cedo demais.
A chave para as descobertas também parece ser a quantidade de sono por noite – o que provavelmente não é uma surpresa.
Nos estudos, os pesquisadores observaram que entre sete e nove horas de sono é melhor para o nosso cérebro, particularmente no que diz respeito à memória e à velocidade de processamento de informações. No entanto, eles também descobriram que passar mais de nove horas dormindo estava, na verdade, ligado a um pior funcionamento cerebral.
Em outro resultado surpreendente do estudo, aqueles que relataram sofrer de insônia não mostraram uma queda significativa na função cerebral como resultado de sono insatisfatório. Mas os cientistas disseram que isso provavelmente tem mais nuances, e as descobertas não levam em consideração a duração ou a gravidade da insônia.
Em resumo, pessoas noturnas podem finalmente ter ganhado algo para se gabar por ter esse estilo de vida. Ficar acordado até tarde pode ser melhor para o desempenho cerebral do que acordar cedo – desde que você consiga atingir o ponto ideal de sete a nove horas de sono.